Abre-se a janela e nota-se um odor diferente no ar. Conclusão baseada na experiência: o vento mudou de direção e vai chover. A fragrância emanada pelo guisado do vizinho faz crescer água na boca. Os vidros da janela do carro no parque de estacionamento fecham-se, sem ser preciso medir a quantidade de gases tóxicos. “Não me cheira a coisa boa”, pensa-se, assim que o cônjuge chega a casa a horas tardias e com o hálito alterado. Se for também o perfume, teme-se que “a mostarda chegue ao nariz” ou que a conversa acabe a “cheirar mal”. Pior é quando se torce o nariz por se notar algo de “errado” no nosso suor e fluidos corporais ou, então, no marisco que chega à mesa e dispensa o teste do palato.
De todos os sentidos, o olfato é um fiel amigo desde tempos ancestrais, mas nós damos-lhe pouco ou nenhum crédito, como atestam os resultados de um inquérito do gigante publicitário McCann Worldgroup: as novas gerações confiam mais nas tecnologias do que nesse barómetro, facilmente descartável e associado a espécies inferiores na escala evolutiva.
Já se sabia, assim, que a parte superior do epitélio olfativo é rica em recetores neuronais – descoberta que valeu um Nobel aos cientistas norte-americanos Richard Axel e Linda B. Buck, em 2004 – e que os humanos conseguem diferenciar um trilião de odores em concentrações mais baixas do que os macacos, os ratos e os porcos. Não temos o faro de um cão, mas somos capazes de detetar uma gama maior de odores do que outros animais. O biólogo sueco Matthias Laska, da Universidade de Linköping, comparou o sentido olfativo de 17 espécies de mamíferos e descobriu que os canídeos eram mais sensíveis aos ácidos gordos, componentes associados à carne das presas. Nós ficamos atrás deles nesta área, mas conseguimos identificar melhor os aromas emanados das plantas, herança dos nossos antepassados que procuravam frutos nas árvores. No total, conseguimos identificar mais de três mil odores.
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