Numa visita à Catedral Metropolitana de Brasília, foi pedido a Jair Bolsonaro que revelasse a sua opinião acerca das reportagens publicadas pela revista Crusoé e pelo jornal Folha de S.Paulo, que, no início deste mês, divulgaram que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (filho mais velho do Presidente), Fabrício Queiroz, e a sua mulher, depositaram cheques no valor de 89 mil reais (mais de 13 mil euros) na conta da primeira-dama brasileira.
Queiroz encontra-se preso desde junho deste ano, tendo sido detido na casa do advogado de Flávio Bolsonaro, onde se encontrava escondido.
A questão de natureza delicada mexeu com Jair Messias Bolsonaro, que não hesitou e prontamente respondeu com uma ameaça “Estou com vontade de encher a tua boca na porrada, tá?”, chamando ainda o repórter de “safado”.
Esta ação foi condenada por várias instituições nomeadamente de entidades do jornalismo brasileiro.
“É lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma agressiva e destemperada a uma pergunta de jornalista. Essa atitude em nada contribui com o ambiente democrático e de liberdade de imprensa previstos pela Constituição”, disse, em comunicado, Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais do Brasil.
Paulo Jeronimo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa, refere que o cargo que Bolsonaro ocupa exige uma maior sensatez e que a questão imposta era de interesse público. “Tal comportamento mostra não apenas uma inaceitável falta de educação. É, também, uma tentativa de intimidação da imprensa, buscando impedir questionamentos incómodos.”
O Globo lançou uma nota de repúdio ao comportamento do Presidente e assegurou que o jornalista “exercia sua função, de forma totalmente profissional”, revelando nunca ceder a manifestações violentas de nenhum chefe de estado.
“Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos.”
Diversas figuras públicas deram uso à sua plataforma digital para condenar o comportamento do Presidente. A cantora Anitta, que por várias vezes já partilhou a sua opinião (negativa) relativamente a Bolsonaro, usou a sua conta na rede social Twitter para comentar o episódio de domingo, dizendo que a “porrada” não é solução para os problemas existentes.
Em vários grupos de Whatsapp, frequentemente utilizados para partilhar mensagens de corrente de apoio ao Presidente, o vídeo em que é possível ouvir a mensagem de ódio foi partilhado com um texto onde era explicado que o ataque era uma consequência de um comportamento impróprio de um jornalista.
“Repórter ataca filha de Bolsonaro e Presidente reage” era a mensagem compartilhada no aplicativo de mensagens onde era afirmado que um jornalista havia dito “Vamos visitar sua filha na cadeia”.
Mesmo antes do início do mandato do atual presidente do Brasil, as fake news disseminadas fizeram aumentar a sua reputação, tendo muitos afirmados que foram estas notícias adulteradas que permitiram a sua eleição.