Um inquérito das Universidades de Sheffield e Ulster aponta para grandes diferenças entre os sexos na forma como as pessoas lidam com a pandemia. Inquiridos quase dois mil jovens, dos 13 aos 24 anos, a equipa chegou à conclusão de que 50% dos homens dos 19 aos 24 anos esteve com amigos ou familiares com quem não conviviam durante o período de confinamento, contra apenas 25% das mulheres da mesma faixa etária.
Outro dado importante retirado da investigação é que os mais jovens eram os que cumpriam as medidas. O grupo que mais infringiu as regras foram os rapazes dos 19 aos 21 anos: quase um terço tinha sido abordado pela polícia para abandonarem o local onde estava, ir para casa ou dispersar; 22% destes foram mesmo detidos ou multados, em comparação com 11% das jovens da mesma idade. Cerca de um em cada cinco dos homens dos 22 aos 24 anos também infringiu as regras, em comparação com apenas uma em cada 10 mulheres com a mesma idade.
“É realmente impressionante o quanto os adolescentes do sexo masculino mais velhos se destacam em termos de violação das regras de distanciamento social. Isto sustenta o que sabemos sobre os jovens mais velhos, que têm uma maior tendência a correr riscos e sentem que não vale a pena seguir as diretrizes”, comentou Liat Levita, professora da Universidade de Sheffield e uma das investigadoras deste estudo, no comunicado divulgado pela instituição.
A pesquisa também concluiu que os níveis de ansiedade e de depressão têm impacto na decisão de seguir ou não as medidas. Os mais ansiosos com a pandemia tinham uma maior tendência para cumprir as medidas, enquanto os jovens com altos níveis de depressão estavam mais propensos a violar as regras. O estudo conclui que 40 a 50% dos jovens se sentem mais ansiosos atualmente do que antes do surto.
Mais de metade dos jovens disseram-se ainda mais preocupados agora com a família do que o habitual. E aqueles cujos familiares são trabalhadores essenciais demonstraram níveis significativamente mais altos de ansiedade e trauma relacionados com a Covid-19.
Os psicólogos envolvidos no estudo também questionaram os inquiridos sobre como esperavam ser afetados pelas pressões externas dos amigos para quebrarem as regras de isolamento: apenas 20% das mulheres disseram que estariam dispostas a aceitar um convite para irem ter com amigos, o que contrasta com o comportamento relatado, onde mais de 90% estão a seguir as regras que lhes são impostas – ou seja, apenas 10% terá realmente desrespeitado o confinamento.
“Explicar as razões das medidas de distanciamento será crucial para convencer os rapazes a seguirem as regras, à medida que o governo começar a facilitar o bloqueio”, sublinhou Liat Levita. “Os nossos jovens estão a crescer em tempos de pandemia e o nosso estudo ajuda a entender as implicações desse facto no seu bem-estar atual e futuro. Devemos aplaudi-los pela forma de como estão a lidar com a situação, mas reconhecemos que o impacto é significativo – mais de 50% apresentam níveis mais altos de ansiedade e preocupação”, diz a investigadora.
“Agora estamos a investigar os fatores que sustentam a resiliência dos jovens a curto e longo prazo, para moldar futuras políticas governamentais voltadas especificamente para os ajudar neste período de incerteza sem precedentes”. A equipa pretende inquirir o mesmo grupo de dois mil jovens, no futuro, para investigar os impactos a longo prazo da pandemia no seu bem-estar.