As imagens divulgadas pela polaca TVN24, captadas num matadouro na região de Mazóvia, centro da Polónia, mostram vacas incapazes de andar a serem arrastadas para fora de camiões, com cordas amarradas aos chifres ou às pernas. Sem que seja possível detetar a presença de qualquer responsável sanitário, os trabalhadores do matadouro preparam as carcaças dos animais, retirando, segundo o britânico The Guardian, feridas e tumores que indicam que, não só as vacas tinham estado doentes, como também tinham passado vários dias deitadas sobre um dos lados.
Especialistas que tiveram acesso às imagens já se manifestaram preocupados com os possíveis riscos sérios para a saúde humana, apelando ao governo polaco para que se apresse a notificar todos os países europeus.
O The Guardian cita Chris Elliot, especialista em segurança alimentar e fundador do Instituto para a Segurança Alimental Global: “Se há qualquer prova de que alguma desta carne saiu da Polónia, então há o potencial para um alerta de segurança europeu, com o envolvimento das agências reguladoras e, potencialmente, das forças policiais em toda a Europa.”
As imagens agora divulgadas foram captadas por jornalistas de um programa de investigação que se infiltraram no matadouro em questão, no final do ano passado. Um dos repórteres, Patryk Szczepaniak, trabalhou no local durante quase três semanas e o seu relato é tão pouco tranquilizador como o vídeo: “Recebi ordens dos meus supervisores para marcar a carne como saudável e, basicamente, torná-la bonita. Foi horrível, acreditem. O cheiro de carne a apodrecer só dá vontade de vomitar. Tinha de a deixar mais bonita, raspando-a com a minha faca.”
O veterinário só apareceria no dia seguinte e também ele, segundo o repórter, tinha como tarefa assinar, sem qualquer inspeção, os certificados em como a carne era segura para consumo. “É suposto os veterinários estarem lá antes, durante e depois da matança, mas em quase três semanas a trabalhar no matadouro, só o vi de manhã, a tratar de papelada e a examinar rapidamente as cabeças das vacas”, assegura Szczepaniak, que resume: “No papel tudo está bem, mas na realidade é um desastre.” É que uma vez com o certificado assinado, a carne já não passa por mais nenhuma inspeção até chegar aos consumidores.
Os dados mais recentes da UN Comtrade, a base de dados das Nações Unidas relativos às trocas comerciais, a Polónia exportou, em 2017, mais de 415 milhões de quilos de carne de vaca, o que corresponde a cerca de 80% da sua produção total.
Na Polónia, é usual publicitar abertamente, online, a venda de vacas “traumatizadas” ou “danificadas”, signifcando, normalmente, que os animais nem conseguem levantar-se. Uma vaca nestas condições custa cinco a seis vezes menos que uma saudável.
O responsável pelas inspeções veterinárias da Mazóvia, Paweł Jakubcza, anunciou, em resposta ao programa, emitido sábado à noite, que o veterinário envolvido e o seu supervisor foram dispensados e que a polícia já está a investigar o caso.