Donald Trump vive a sua maior crise em quatro meses de administração. Depois de ter demitido inesperadamente o diretor do FBI, James Comey, e de ter revelado informação sensível ao ministro dos Negócios Estrangeiros russo, uma nova polémica levou alguns membros do partido republicano a pôr em cima da mesa o “impeachment”. Em causa está uma alegada pressão de Trump a Comey para não investigar o general Michael Flynn, ex-conselheiro de Segurança Nacional.
James Comey, de acordo com o “The New York Times”, terá apontado num bloco de notas as conversas que foi tendo com Trump, escrevendo o que considerou ser uma tentativa do presidente para impedir uma investigação a Flynn. O general foi forçado a demitir-se em fevereiro, depois de ter sido público que debateu com o embaixador russo em Washington sobre as sanções aplicadas à Rússia.
No dia seguinte à demissão do general, Trump terá pedido a Comey que deixasse cair a investigação. “Espero que deixe isso passar, que deixe o Flynn ir”. Michael Flynn é um dos (ex) associados do presidente que está sob investigação devido às suas ligações a governos estrangeiros e por tido um papel na alegada interferência da Rússia a interferir nas presidenciais dos EUA em 2016.
O “The New York Times” cita especialistas que avançam que o pedido de Trump pode lançar as bases para uma investigação contra o presidente por obstrução à justiça. A Casa Branca já desmentiu a situação, mas vários jornais norte-americanos confirmam a existência das notas de Comey, criando um clima de incerteza em Washington: quem está a dizer a verdade?
Jason Chaffetz, responsável pela Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes, solicitou que Andrew McCabe, atual diretor do FBI, entregue as notas de James Comey até 24 de maio. As dúvidas continuam a crescer, e com elas intensificam-se as críticas do Partido Democrata. Mas também dentro dos republicanos surgem vozes que pedem uma comissão independente para apurar as alegadas ligações entre os membros da administração Trump e a Rússia.
O congressista republicano Justin Amash, cita o “The Independent”, indicou que a verificar-se a pressão exercida por Trump ao antigo diretor do FBI, o presidente pode ser alvo de “impeachment”. À CNN, o também republicano Carlos Curbelo comparou o caso com os procedimentos que levaram aos pedidos de destituição de Richard Nixon e de Bill Clinton.
Trump pode ser destituído?
É uma possibilidade, mas ainda muito distante no tempo. O presidente teria de ser alvo de uma fortíssima pressão mediática, ao ponto dos aliados republicanos perderem a sua confiança. Tendo em conta que tomou posse em janeiro, parecem escassas as possibilidades dos republicanos afastarem um presidente do seu partido após quatro meses de chefia.
Paralelamente, Trump teria de ser ‘julgado’ tanto na Câmara dos Representantes como no Senado, onde o Partido Republicano está em maioria (238 contra 193 deputados), pelo menos até janeiro de 2019. Em novembro de 2018 estão marcadas eleições nas duas câmaras do Congresso, um sufrágio onde os democratas podem reconquistar a maioria.
Paul Ryan, líder da Câmara dos Representantes desde 2015, alertou para o facto de existirem “pessoas que querem prejudicar o presidente”, mas defendeu a necessidade de apurar o que aconteceu. “Precisamos de factos.Temos a obrigação de exercer a nossa supervisão independentemente do partido que estiver na Casa Branca”, disse. Estas declarações de Paul Ryan ganham particular relevância por se tratar de uma figura republicana que esteve hesitante em apoiar o atual chefe de Estado.
O “The Washington Post” revela que um mês antes de Trump vencer a nomeação às presidenciais, Kevin McCarthy, líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, disse a colegas do partido que “acha” que Trump recebe pagamentos do Vladimir Putin, presidente da Rússia. “Há duas pessoas a quem julgo que Putin paga: [Dana] Rohrabacher e Trump”. Perante os risos dos presentes no Capitólio, McCarthy respondeu: “Juro por Deus”. Rohrabacher é um republicano conhecido no Congresso como defensor acérrimo de Putin e de Trump.
Paul Ryan esteve presente nessa reunião, tendo, após o comentário do líder da Câmara dos Representantes, pedido que a conversa fosse mantida em segredo. “Sem fugas. Só assim sabemos que somos uma verdadeira família”. A gravação foi ouvida e comprovada pelo jornal. Quando confrontados com a situação, o porta-voz de Kevin McCarthy afirmou que “só a ideia que ele pense isso é absurda e falsa”. Depois do jornal mencionar que tinha ouvido a gravação, a reação mudou: “Foi uma piada falhada. Ele não estava a falar a sério”.