Comportamento “inominável”. Foi assim que um juiz francês classificou a atitude de um casal de vendedores de cachecóis e t-shirts por tentativa de extorsão ao Fundo de Garantia das Vítimas do Terrorismo.
A dupla, de 47 e 36 anos, fez-se passar por vítima do atentado junto ao Stade de France, em Paris, a 13 de novembro de 2015 – o dia em que a capital francesa viveu o terror de vários atentados perpetrados por terroristas do Daesh (no Bataclan, em esplanadas e no estádio) – para receber os 30 mil euros de indemnização. O advogado do fundo lamentou, ao jornal francês Le Monde, que as pessoas “joguem à roda da fortuna” com os atentados que causaram tantas vítimas. Até agora, o fundo já indemnizou 2 434 pessoas.
O casal, de origem sérvia, foi condenado, a 11 de janeiro, a um ano de prisão, com seis meses de pena efetiva, por se fazerem passar por vítimas. A investigação provou, através do cruzamento das antenas de telemóvel, que, à hora em que o cinto de explosivos foi detonado pelo kamikaze do Daesh, já eles estavam em casa, apesar de terem efetivamente vendido cachecóis nas imediações do estádio naquele dia. Em tribunal, primeiro negaram a acusação, mas acabaram por admitir e disseram estar “arrependidos” de ter mentido aos polícias e aos médicos.
Em Paris e em Nice?
Este foi o quarto caso do género a chegar aos tribunais franceses. A pena mais pesada, de seis e três anos de prisão efetiva, foi aplicada a um casal que também disse ter estado no Stade de France na altura do atentado. Estes impostores do terror, com 36 e 29 anos, receberam 30 mil euros de indemnização cada um e tentaram repetir a farsa logo a seguir ao atentado de Nice, em 2016, onde um camião conduzido por um terrorista do Daesh foi de encontro à multidão que celebrada o Dia da Bastilha. A polícia desconfiou e as investigações provaram que o casal nem sequer estava em Paris no dia dos atentados de 2015, nem esteve nunca em Nice. Durante as audiências, as falsas vítimas alegaram ter dificuldades financeiras e que utilizaram parte dos 60 mil euros que receberam num negócio de venda de carros em segunda mão. Além do tempo que vão passar na cadeia têm, também, de devolver esse dinheiro.
Documentação falsa
Laura Ouandjili, de 24 anos, não estava na esplanada do café Carillon aquando dos atentados, mas isso não a impediu de, um mês depois da tragédia, ir a uma esquadra da polícia, com um braço ao peito, clamando ter sido uma das vítimas. Laura elaborou um dossiê completo onde relatava que estava na esplanada na altura da “explosão da bomba”, falou do medo que sentiu, juntou informação clínica para justificar os danos causados nos músculos e nervos do braço e até fotografias de um braço ensanguentado (que tirou da internet). Tudo mentira. A desconfiança policial começou de imediato, já que no Carillon não houve explosão de bombas, mas sim muitos tiros de metralhadora. Acabou por confessar ser “inadmissível tudo o que fez”, desculpando-se com o “excesso de hormonas” (estava grávida na altura). Foi condenada, em novembro, a um ano de prisão efetiva.
Uma outra mulher, de 31 anos, não teve qualquer pejo em inventar uma história mirabolante para tentar receber 10 mil euros por ter ficado desempregada depois do ataque ao Bataclan. Disse ela que ficou traumatizada por ter estado na sala de espetáculos, ao lado de pessoas mortas, e que teve de saltar por uma janela para fugir. A depressão, disse, levou-a ficar sem trabalho. A invenção valeu-lhe seis meses atrás das grades.