Os tempos têm sido atípicos e não parece que tenham parado de nos surpreender. No último ano, os ingleses votaram pela saída da Grã Bretanha da União Europeia e Donald Trump foi nomeado, pelo Partido Republicano, candidato à presidência dos Estados Unidos. Em Portugal, António Costa, que perdeu as últimas eleições legislativas, está à frente dos destinos do País, como prova que as vacas conseguem, de facto, voar.
No próximo sábado, a Islândia vai a votos e é provável que o mundo volte a ser surpreendido. É que, de acordo com a última sondagem, feita pelo Insituto de Investigação de Ciências Sociais da Universidade da Islândia para o diário islandês Morgunblaðið, um em cinco islandeses deverão votar no Partido Pirata.
Leu bem. O Partido Pirata define-se como não sendo nem de esquerda nem de direita, mas antes um movimento radical que consegue juntar o melhor dos dois mundos. Liderado pela poeta, programadora informática e ativista do Wikileaks, Birgitta Jónsdóttir, de 49 anos, o partido nasceu no fim de 2012 e congrega uma “coleção de anarquistas, hackers, libertários e geeks da internet”, como conta o jornal Washington Post. No ano seguinte à sua fundação, o partido fez história ao conseguir eleger três dos 63 deputados do parlamento islandês. Três anos passados e a menos de uma semana das eleições, o Pirata está à frente das sondagens.
O crescimento do partido surpreendeu a própria Birgitta Jónsdóttir que, questionada sobre a possibilidade de poder vir a governar o país, disparou um claro: “No way” [nem pensar]. Mas a verdade é que a sua forma de atuar agradou a uma boa parte de islandeses (sobretudo os sub-40), desiludidos com o impacto da crise financeira na sua até então pujante economia. O facto de a mulher do primeiro ministro ter aparecido nos Panama Papers como sendo detentora de uma off shore com ativos em três bancos islandeses não ajudou. O seu envolvimento (e do marido que, antes de tomar posse, fora detentor de 50% da empresa) gerou grandes protestos e levou muitos islandeses para as ruas. Sigmundur Davíð Gunnlaugsson (do Partido Independência, de centro direita), primeira vítima dos Panama Papers, foi obrigado a pedir a demissão da chefia do governo.
No próximo sábado, a Islândia vai a votos. À frente das sondagens (com 22,6%, mais 1,5% do que o Partido Independência), está o Pirata. Ser-lhe-á difícil (porque não faz parte da tradição daquele país) obter maioria absoluta e o Partido Independência (ainda no poder) já afirmou não estar disponível para coligações.
Siga as cenas dos próximos capítulos, no próximo sábado, como no cinema. E atenção, quando ouvir “Pirata”, não pense em homens de pala no olho ou espada à cinta. Podem bem estar entre os próximos governantes da Islândia.