Com os seus quatro metros de comprimento, grande barriga, olhos esbugalhados e focinho afilado recheado de dentes, a criatura da imagem aqui em cima é tudo menos queriducha. E, no entanto, é por ela que Steve Brusatte e os seus colegas paleontólogos dos Museus Nacionais da Escócia andam apaixonados desde que Nigel Larkin, um conhecido restaurador de fósseis, conseguiu libertá-la da rocha em que estava presa há milhões de anos.
Depois da demorada empreitada de Larkin, e refeito o pesado puzzle em 3D com que se parecia o fóssil encontrado no Lago Storr (Loch Storr), Brusatte não hesita em chamar-lhe “jóia da coroa da pré-história escocesa”. Afinal, são raros os fósseis de ictiossauros em todo o mundo, sendo que o primeiro esqueleto completo deste réptil marinho do tempo do Jurássico foi descoberto no sul de Inglaterra, em 1811.
O Lago Storr situa-se na ilha escocesa de Sky. Foi lá que o diretor de uma fábrica vizinha encontrou, em 1966, o fóssil quase completo de um ictiossauro. Na altura, e nos cinquenta anos que se seguiram, optou-se por mantê-lo intacto na enorme rocha que o envolvia; era grande o risco de vir a destruí-lo durante a extração.
Só recentemente, a Universidade de Edimburgo, os Museus Nacionais da Escócia e a empresa britânica de energia SSE se juntaram para avançar com a delicada tarefa. De acordo com o site natural-history-conservation, foi preciso juntar 140 pedaços para chegar ao esqueleto daquele que os paleontólogos agora apresentam como o possível antepassado do monstro de Loch Ness.
Segundo reza a lenda, Nessie, como é carinhosamente chamado, terá sido avistado pela primeira vez 565 anos antes de Cristo – parecer-se-ia com uma serpente gigante e atacara um homem. Já no início do século XX, surgiram supostas fotografias tiradas de um monstro a emergir da água, o mito não parou de crescer, transformado o lago numa das atrações turísticas mais visitadas da Escócia. E é possível pesquisar o lago com a ajuda do Google Maps.
Os ictiossauros eram uns predadores ferozes que mediam entre 2 a 3 metros de comprimento, podendo chegar aos 15 metros. “As pessoas estão obcecadas com o mito do Loch Ness, mas não se dão conta de que existiram verdadeiros monstros marinhos”, disse à AFP Steve Brusatte, “que eram maiores, mais horripilantes e mais fascinantes do que Nessie.”