Ao Presidente Barack Obama não basta ficar na história como o primeiro afro-americano a tomar conta da Casa Branca. Esta semana tornou-se ainda no primeiro Chefe de Estado americano a publicar um artigo científico. Publicado a 11 de julho, no Journal of the American Medical Association (JAMA), uma publicação médica com elevado fator de impacto, o artigo com o título United States Health Care Reform, Progress to Date and Next Steps (Reforma do Sistema de Saúde dos Estados Unidos, Progressos até à Data e Próximos Passos) é uma espécie de balanço da sua coqueluche Obamacare.
Num texto, no qual aparece como único autor, Obama faz a análise do impacto da lei federal, aprovada em 2010 e que permitiu reorganizar o sistema de saúde, oferecendo seguros mais baratos, geridos pelo estado, aos cidadãos mais desfavorecidos. Depois da criação do sistema Medicare e Medicaid, iniciado em 1965, esta terá sido a medida política mais relevante na promoção do acesso à saúde.
Mas ninguém deve ser juiz em causa própria. Nem sequer o quase consensual Obama. E é isso que lhe tem sido apontado, em sites de académicos, como o Academia Stack Exchange. Será que foi mesmo o único autor? Não haverá conflito de interesses tendo em conta que o autor analisa o seu próprio trabalho? Será que este é um artigo científico ou um artigo político?, questiona-se.
Em defesa do presidente, Howard Bauchner, editor do JAMA, veio contar que o artigo de Obama foi lido e analisado como todos os outros, antes de ser aprovado, num processo que demorou dois meses. “É claro que reconhecemos que o autor é o presidente dos Estados Unidos, mas o JAMA tem padrões muito elevados e com certeza que contamos que o presidente os respeite.” Além disso, explicou, o artigo aparece na categoria de ‘Comunicação Especial’.
Na análise ao impacto da lei, também conhecida como Affordable Care Act, ou simplesmente ACA, mostra-se que a taxa de cidadão americanos sem seguro de saúde desceu de 16% para 9,1%, entre 2010 e 2015. Regista-se ainda uma diminuição na taxa de readmissão hospitalar, um dos indicadores da robustez de um serviço de saúde.
Para o futuro, Obama recomenda aos seus sucessores que sejam mais duros na negociação do preço dos medicamentos de prescrição médica obrigatória. Deixa ainda três lições:
“Qualquer mudança é difícil, sobretudo num contexto de hiper-partidarismo”; “os interesses particulares são um contínuo obstáculo à mudança”; “o pragmatismo é importante quer na legislação, quer na implementação”. Palavra de cientista. Ou será de estadista?