Não deve haver notas mais conhecidas no mundo, e todas têm uma coisa em comum: são verdes e têm desenhos de homens brancos. Mulheres ou negros, nem vê-los, porque o dólar tem sido nota muito pouco inclusiva.
Desde a década passada que se discute nos Estados Unidos a possibilidade de uma mulher vir a figurar numa nota de dólar, movimento que ganhou força com a chegada de Obama ao governo. O tema ficou na ordem do dia em Junho de 2015, quando Jack Lew, secretário do Tesouro norte-americano, anunciou que a nota de 10 dólares seria a primeira a ter a figura de uma mulher. Reiterou os seus planos no final do ano, quando lançou o mote de que a escolha da mulher seria alguém que fosse uma “campeã na democracia inclusiva” norte americana. Desde então, o debate tem sido intenso, com vários nomes femininos de destaque a serem lançados para a praça pública.
A data escolhida para o grande momento seria 2020, mesmo a tempo do 100º aniversário da 19º emenda, que concedeu direitos de voto às mulheres nos EUA. Eram quatro as favoritas para figurarem na nota de 10 dólares: as ativistas Rosa Parks, Susan B. Anthony e Harriet Tubman, e a primeira-dama Eleanor Roosevelt.
Até que um musical pode ter mudado o rumo dos acontecimentos. Apoiantes ferverosos de Alexandre Hamilton, o senhor que figura na atual nota de 10 dólares, vieram para a praça pública exigir que se mantivesse. A seu favor, um argumento de peso: está a decorrer na Broadway um espetáculo inspirado na história da vida de Hamilton, que ganhou um prémio Pulitzer esta semana. O seu criador e protagonista, o porto-riquenho Lin-Manuel Miranda, moveu mundos e fundos para influenciar a decisão. Visitou Lew, e pode tê-lo convencido a mudar de ideias. “O secretário agradeceu a Miranda a forma engenhosa como conseguiu contar a história de Hamilton e dar origem a um renovado interesse num dos pais fundadores da nossa nação”, disse um porta-voz da secretaria do Tesouro ao New York Times, acrescentando que “Lew reiterou o seu compromisso em honrar Hamilton na nota de 10 dólares”. Já Miranda, twittou logo a seguir à reunião: “Falei com o Secretário do Tesouro esta segunda-feira sobre isto. Lew disse-me ‘vais ficar muito contente'”, acrescentando a hashtag #wegetthejobdone, qualquer coisa como “conseguimos cumprir a missão”.
Quem já se indignou fortemente contra este revés foi Arianna Huffington, que assinou ontem um artigo de opinião com o título: Vamos fazer isto: Uma mulher na face da nota de 10 dólares, já!”. A fundadora do Huffington Post indigna-se contra o volte-face e argumenta coma necessidade de honrar as mulheres que ajudaram a construir os Estados Unidos.