A festa do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim está a ser ensombrada pelos estudos de opinião. As autoridades germânicas olham com incredulidade e apreensão para sondagens a dar conta de que, passados 20 anos sobre os acontecimentos do Outono de 1989, a euforia se desvaneceu.
Neste ano de efeméride os estudos têm saído em catadupa e todos eles com conclusões semelhantes: há uma percentagem significativa da população alemã que não está satisfeita com a unificação do país. Os dados revelam mesmo que mais de metade dos alemães ocidentais e orientais estão decepcionados com o resultado da reunificação alemã.
Assim, se bem que em todo o território alemão cerca de 80 da população tenha ficado contente com o desperecimento do regime fronteiriço da defunta RDA, uma sondagem do instituto de demoscopia Forsa revelava, em Setembro, que um em cada sete alemães gostaria de ter o muro de volta. A tendência é mais vincada nas regiões que eram abrangidas pela antiga RDA, onde o sentimento das pessoas de serem “alemães de segunda” está muito presente em todos os estudos de opinião.
Em 1989, na parte oriental, 71% dos inquiridos pela Forsa, esperavam ver as suas condições de vida melhorar. Passadas duas décadas, apenas 46% dizem que tal expectativa se realizou. No Ocidente são apenas 40% (52%, em 1989). Os estudos de opinião demonstram que, apesar de a barreira física ter desaparecido, continuam a existir dois países, ou melhor dois géneros diferentes de alemães, e que o Muro prevalece – dentro da cabeça das pessoas.
E para essa ideia contribui, em grande medida, o ainda existente muro económico e social: no Leste, a produtividade e os salários são mais baixos que no Ocidente, o desemprego é mais elevado e regiões inteiras sofrem de envelhecimento demográfico, porque os jovens migraram para o Ocidente. De um lado e de outro desse muro imaginário há preconceitos. Se os ocidentais começam a ficar fartos de pagar o complemento de solidariedade para reconstruir o Leste, os orientais sentem-se usados e cidadãos de segunda. Em Setembro, uma sondagem do Instituto Allensbach concluía que 63% dos alemães orientais acreditam que há mais diferenças do que coisas em comum entre os alemães. Mas também há dados animadores: a geração nascida após 1989 já superou o Muro. Um estudo de Outubro feito pela Gesellschaft für Konsumforschung revela que 80% dos jovens dos 14 aos 19 anos se sente apenas “alemão”. Francisco Galope, em Berlim Números 1 em 7 alemães quer o Muro de volta 54% dos alemães orientais estão decepcionados com o resultado da queda do Muro 1 em 4 alemães orientais acham que se vive agora pior na ex-RDA 49% dos alemães orientais consideram que a RDA tinha mais lados bons que maus. Apenas 18% dos alemães ocidentais partilham dessa opinião 60,5% dos alemães orientais sentem-se “alemães de segunda”; 29% dos ocidentais acham que eles são isso mesmo.
Números
1 em 7 – alemães quer o Muro de volta
54% dos alemães orientais estão decepcionados com o resultado da queda do Muro
1 em 4 alemães orientais acha que se vive agora pior na ex-RDA
49% dos alemães orientais consideram que a RDA tinha mais lados bons que maus. Apenas 18% dos alemães ocidentais partilham dessa opinião
60,5% dos alemães orientais sentem-se “alemães de segunda”; 29% dos ocidentais acham que eles são isso mesmo.