É fácil ser um populista profissional. Candidato dessa estirpe ao Parlamento Europeu (PE)? Simples, basta sacar de uns despautérios, descontextualizar o que convém e jurar a pés juntos que, na verdade, se trata de um sítio de burocratas obedientes, que ganham um salário mensal líquido de €7 853, a que se juntam €4 950 para despesas essenciais (assessores, secretárias, material de escritório) e ainda outros €350 ao dia – desde que o eurodeputado esteja de facto presente nas duas cidades que acolhem a instituição, Bruxelas e Estrasburgo. Valores estratosféricos para os 450 milhões de habitantes que vivem na União Europeia – nomeadamente os portugueses, cujo rendimento mensal bruto ronda os €1 500. Os populistas são capazes de dizer tudo e o seu contrário, sem receio de lhes apontarem as contradições relativas ao maior projeto de paz e de prosperidade que o Velho Continente alguma vez conheceu.
Eurorrealistas e moderados?
Principais líderes dos partidos que compõem os Conservadores e Reformistas (ECR). Número atual de eurodeputados: 69
A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido neonazi que defende a remigração e outras coisas do género, alega que o PE “não serve para nada” e que deveria ser “abolido”. Até há duas semanas, esta organização eurofóbica, que elegeu sete eurodeputados há uma década (e aumentou a representação para 11, em 2019), fazia parte da Identidade e Democracia (ID), a família parlamentar que reúne os movimentos mais radicais e soberanistas do Velho Continente (ver infografia). Por decisão da líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, a AfD foi expulsa, porque o respetivo cabeça de lista ao PE, Maximilian Krah, numa entrevista ao diário italiano La Repubblica, afirmou que “nem todos” os elementos das SS eram criminosos. Ou seja: as falsidades e os exageros ideológicos têm limites, e Le Pen anda há anos a “desdiabolizar-se” por acreditar que, depois de três tentativas frustradas, em 2027, será a Presidente de França.