Tiago Oliveira, que foi eleito líder da intersindical no sábado, afirma que os partidos devem responder “no concreto, no essencial e no agora” em quanto vão aumentar o salário mínimo nacional (SMN), atualmente nos 820 euros, em vez de apresentarem propostas apenas para o final da legislatura, como é o caso do PS ou da Aliança Democrática, que têm como meta os 1.000 euros em 2028.
“Faz-me falta a mim no fim do mês, pagar a casa agora, não é daqui a quatro anos. Eu tenho de pôr a minha filha na escola agora, não é daqui a quatro anos. Porque é que temos de falar sempre no dia de amanhã? Foquemo-nos no agora e naquilo que é a resposta às necessidades que temos hoje em dia”, realça, em entrevista à Lusa.
Tiago Oliveira lembra que a CGTP reivindica 1.000 euros para o SMN já em 2024 e também um aumento geral dos salários em, pelo menos, 150 euros, tendo em conta a subida do custo de vida.
A valorização dos salários é, aliás, a principal prioridade da central sindical para o mandato de quatro anos que agora começa, além de um conjunto de reivindicações “a que é mesmo urgente dar resposta” como o problema da desregulação dos horários de trabalho.
“Vivemos numa atualidade em que se está a tentar passar uma imagem de normalização do trabalho aos fins de semana e aos dias de feriado, uma completa desregulação entre a vida pessoal e familiar, uma área a que temos de dar resposta e a que vamos estar atentos”, assegura, acrescentando ainda que o combate à precariedade será também um dos desafios da intersindical.
A intervenção da CGTP vai ser sobretudo ao nível dos locais de trabalho porque, diz, a resposta “parte sempre da base, da organização dos trabalhadores no seu próprio local de trabalho” onde o confronto entre a entidade patronal e o trabalhador mais se faz sentir.
Segundo vinca, “é aí que esse confronto tem de ser dado, porque é aí que está a luta de classes”, mas também na rua para exigir ao Governo que sair das eleições do dia 10 de março “uma reversão daquilo que têm sido as políticas seguidas ao longo destes últimos 40 anos”.
Tiago Oliveira, que até agora era coordenador da União de Sindicatos do Porto, afirma-se preparado para agarrar a liderança da maior central sindical do país, até porque nunca teve a vida facilitada no confronto laboral com as entidades patronais do norte.
“Nunca tive a sorte, hei-de ter talvez um dia, mas até hoje nunca tive, de me sentar à mesa com um patrão a negociar um caderno reivindicativo em que o patrão estivesse disponível para alguma coisa, por isso não tenho problema nenhum nesse aspeto”, conta.
Já questionado sobre se o surgimento de movimentos inorgânicos de contestação pode retirar força aos sindicatos, Tiago Oliveira reafirma que estes movimentos surgem “por existir descontentamento, por existir trabalhadores sem resposta aos problemas, o que não inviabiliza nem um, nem outro”.
“Aquilo que temos de analisar relativamente aos movimentos inorgânicos é, para já, muitas vezes, quem os promove, com que intuitos e qual o objetivo desses movimentos. Mas, no nosso entender, aquilo em que acreditamos é que os trabalhadores encontrarão sempre nos sindicatos da CGTP, o seu aliado, o seu interlocutor”, afirma.
Segundo o sindicalista, “a ideia de que cada um por si, sozinho” consegue alcançar os seus objetivos “é uma completa mentira” até porque “sabemos quem é que tem a faca e o queijo na mão e quem é que está à procura de trabalho para pagar a casa, a alimentação e pôr os filhos na escola”.
A CGTP representa mais de 550 mil trabalhadores no país, tendo nos últimos quatro anos registado 110 mil novas sindicalizações, 15% das quais de jovens até aos 30 anos, segundo o relatório de atividades da intersindical.
*** Denise Fernandes (texto), Jorge Coutinho (vídeo) e Miguel Lopes (foto), da agência Lusa ***
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