Os regimes desigualitários, ou seja, a estrutura e a dimensão das desigualdades socioeconómicas em diferentes sociedades e épocas, são de uma extraordinária diversidade. A História e as culturas desempenham um papel central na compreensão deste fenómeno. Com efeito, as desigualdades estão associadas a trajetórias socioeconómicas, políticas, culturais, civilizacionais ou religiosas muito distintas entre si. É a cultura, no seu sentido mais lato, e talvez mais do que a cultura as mobilizações políticas coletivas, que permite explicar a diversidade, a dimensão e a estrutura das desigualdades sociais existentes. Inversamente, o peso dos fatores ditos “naturais”, como talentos individuais, disponibilidade de recursos naturais ou outros fatores semelhantes, é relativamente limitado.
O exemplo da Suécia, considerado um dos países mais igualitários do mundo, é interessante a este respeito. Alguns atribuem este facto às características intemporais do país, a uma cultura que é por natureza adepta da igualdade. Porém, na realidade, a Suécia foi durante muito tempo um dos países mais desiguais da Europa, com uma impressionante sofisticação na organização da sua desigualdade. Esta situação transformou-se muito rapidamente no segundo terço do século XX, em resultado de uma mobilização política e social, com a chegada ao poder do partido social-democrata, no início da década de 1930. Este partido social-democrata, que governou durante meio século, colocou a capacidade estatal da Suécia ao serviço de um projeto político completamente diferente da ordem anteriormente vigente. A Suécia representa, neste contexto, um caso interessante que mata pela raiz a crença em qualquer determinismo a longo prazo, decorrente de fatores naturais ou mesmo culturais, responsável pelo facto de algumas sociedades serem eternamente igualitárias, ao contrário de outras, eternamente desiguais, como a Índia, por exemplo. As construções sociais e políticas estão sujeitas a mudanças, e por vezes de forma muito mais célere do que supõem os observadores contemporâneos ‒ nomeadamente os vencedores do sistema, os grupos dominantes que, por razões óbvias, tendem a normalizar as desigualdades, apresentando-as como imutáveis e alertando contra qualquer mudança que possa ameaçar esta confortável harmonia. A realidade é bastante mais dinâmica e encontra-se em permanente reconstrução: é o resultado de relações de poder, compromissos institucionais e bifurcações inacabadas.