“Uma porta tem de estar aberta ou fechada”, afirmou a presidente do Banco Central Europeu (BCE), citando o poeta e dramaturgo francês Alfred de Musset. Mas a comunicação do BCE e as declarações de Christine Lagarde fizeram exatamente o contrário. A subida de 0,25 pontos das taxas de juro de referência – que colocou a taxa de depósitos no máximo histórico de 4% – veio acompanhada por um discurso de final de ciclo do agravamento, que deu lugar a um combate mediático entre “pombas” e “falcões” pelo controlo da narrativa. Ao mesmo tempo que sugere que os juros terão de ficar altos por muito tempo, Lagarde volta a pedir aos governos que interrompam os apoios que permitirão às famílias aguentar o embate. As palavras têm força, mas também fazem ricochete. Lagarde tem aprendido isso, nos quatro anos à frente da mais poderosa instituição europeia.
Era a decisão mais difícil de antecipar, em mais de um ano. Depois de nove subidas de juros consecutivas, iniciadas em julho do ano passado, os analistas dividiam-se, 50/50, quanto à possibilidade de o BCE voltar a agravá-los ou fazer uma pausa, para avaliar os resultados, perante uma inflação que tem descido (ainda que devagar) e uma economia a caminhar para a estagnação. O banco central preferiu arriscar “exagerar na dose” do que ser complacente, mas fê-lo com um discurso que sinaliza o final da escalada.
