O presidente do conselho de administração da Media Capital, Mário Ferreira, acusa, mais uma vez, o grupo Cofina de estar a usar, “de forma orquestrada”, o jornal Correio da Manhã, que detém, para “insultar, denegrir e fazer insinuações” sobre os acionistas da TVI, no sentido de “os desmoralizar e pressionar” a “abdicarem das suas participações”, e assim “condicionar as autoridades que possam ter uma palavra a dizer nessa matéria”. Invocando a “liberdade de iniciativa privada e a independência dos meios de comunicação”, Mário Ferreira adianta ser “fundamental que o Sindicato dos Jornalistas e a Comissão da Carteira se pronunciem sobre o assunto, já que considera que serve “tudo isto para colocar a Cofina numa posição favorável” na disputa pelo controlo da Media Capital.
“A demonstração de que os meios de comunicação social próprios são utilizados para fins do interesse da Cofina levantará certamente questões do foro deontológico do jornalismo, da independência das publicações, e até do foro criminal, tendo em conta a pressão permanente resultante da torrente de notícias que têm como alvo Mário Ferreira e outros acionistas da Media Capital”, assegura o comunicado, que terá seguido também para o Sindicato de Jornalistas e para a Comissão da Carteira.
Este é mais um episódio negro na guerra que tem caracterizado a corrida de Mário Ferreira e Paulo Fernandes, pela posse do grupo que detém a TVI, a Rádio Comercial e a produtora Plural. Inicialmente, os dois estavam juntos no negócio, mas em março, a Cofina recuou. Mário Ferreira seguiu sozinho, negociou com a Prisa a compra de 30,22% da Media Capital, a que se seguiu a venda da restante totalidade a duas dezenas de empresários portugueses. Por obrigação legal, e depois de um complexo quadro jurídico-legal, tanto a Cofina, de Paulo Fernandes, como a Pluris, de Mário Ferreira, foram obrigados pela CMVM a prosseguirem com as suas ofertas públicas de aquisição sobre a totalidade do capital, sendo agora as duas concorrentes entre si.
Já a 24 de novembro passado, quando o novo conselho de administração da TVI tomou posse, Mário Ferreira, denunciou, em conferencia de imprensa uma série de “ameaças” feitas aos novos acionistas, que estavam a “ser alvos de ataques do Correio da Manhã”, assegurando terem seguido queixas para a ERC, sem que esta tivesse tomado qualquer posição sobre o assunto.
“Há pessoas que estão a contactar os acionistas perguntando se estes se vão meter no negócio (da TVI) e avisam que é melhor não se meterem porque poderão passar a fazer parte da lista dos que irão aparecer no Correio da Manhã”, adiantou, então Mário Ferreira. Agora, em comunicado, reafirma: “De facto, desde o início da operação de compra da TVI por investidores portugueses, que adquiriram as participações à Prisa, que vêm sendo publicadas várias centenas de “notícias”, aparentemente de forma orquestrada, a insultar, a denegrir e a fazer insinuações sobre a TVI, a Media Capital, Mário Ferreira e os restantes acionistas, nos meios de comunicação do grupo Cofina, o que revela um interesse evidente em desmoralizar e pressionar esses acionistas para abdicarem das suas participações e condicionar as autoridades que possam ter uma palavra a dizer nessa matéria. Tudo isto para colocar a Cofina numa posição favorável numa disputa pela titularidade das ações da Media Capital, que só existe na cabeça do engenheiro Paulo Fernandes”.
“Mafioso de meia tigela”
E foi mais uma notícia dessas, publicada na terça-feira, 12, pelo Correio da Manhã, que fez Mário Ferreira publicar um post – apagado horas depois – na rede social Facebook, onde chamava “mafioso de meia tigela” a Paulo Fernandes, por estar a lançar “mais uma notícia falsa na tentativa falhada” de o “descredibilizar junto da opinião pública e instituições regulatórias”. E porquê? “Porque Paulo Fernandes e os seus sócios cancelaram por vontade própria e de forma irregular o negócio da compra da TVI e agora querem arranjar forma de a agarrar para salvar a miséria em que se encontra a Cofina, tentando de forma criminosa e mafiosa influenciar a ERC”, responde no mesmo desabafo digital.
Na verdade, a ERC está também a analisar se houve ou não uma alteração não autorizada de domínio quando Mário Ferreira comprou 30,22% do capital à Prisa, podendo vir a impor o pagamento de uma multa, ou mesmo a não validade do negócio. Chegou mesmo a recomendar a não tomada de posse dos novos acionistas, invocando uma alegada falta de transparência quanto à sua titularidade.
A notícia do Correio da Manhã que provocou mais este episódio dizia que Mário Ferreira está “na mira das autoridades”, invocando, mais uma vez, o processo de compra e venda do navio Atlântida. “Uma insinuação ou mentira não deixa de ser uma simples insinuação e mentira. Mas quando são recorrentes é mais grave, quando são sistemáticas é mais claro: não passam de uma campanha com interesses por detrás”, conclui o comunicado de Mário Ferreira.