O antigo líder do BES Ricardo Salgado trouxe hoje Fernando Pessoa para a comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco, recorrendo ao autor para dizer que vai continuar a defender a sua razão.
“Pedir desculpa é pior do que não ter razão. Eu estou aqui para defender a minha razão”, disse Salgado, recorrendo a palavras do escritor português.
Na sua intervenção inicial nesta que é a sua segunda presença na comissão de inquérito, o ex-banqueiro citou também o padre António Vieira: “Em nenhuma parte como em Portugal se gasta tanto papel, ou se gasta tanto em papéis” foi a citação utilizada por Salgado.
Perante a comissão, garantiu que “o dinheiro não foi para os bolsos dos acionistas, entre os quais se encontrava a família Espírito Santo. Mas o dinheiro não desapareceu.”
“O relatório elaborado pela KPMG sobre a Espírito Santo International (ESI) demonstra que não houve qualquer desvio de fundos”, declarou Salgado.
De acordo com o ex-banqueiro, “basta ver, com atenção, as contas do BES do primeiro semestre de 2014 e as contas do Novo Banco, que foram divulgadas em 09 de março de 2015, para concluir que não houve desvio de dinheiro”.
A 30 de junho de 2014, o BES tinha um capital próprio de 3.732 milhões de euros e o custo com imparidades e contingências registado nas contas consolidadas do banco relativo a reforço de provisões e similares ascendia a 4.253 milhões de euros.
“Ou seja, o reforço das provisões e similares registado, no final do primeiro semestre de 2014, ascendia a quase seis vezes mais do que um ano antes”, frisou Ricardo Salgado.
As provisões, prosseguiu, não implicaram a saída de dinheiro de caixa, aquando da sua constituição.
Apesar das contas do BES apresentarem em junho de 2014 um capital próprio de 3.732 milhões de euros, ativos por impostos diferidos de 1.940 milhões e um custo com imparidades e contingências – incluindo provisões e similares – no valor de 4.253 milhões de euros, a verdade é que “os acionistas e os clientes de papel comercial, que estavam em processo de reembolso, nada receberam”.
“Tudo, então, indica que foi o Novo Banco quem beneficiou. Isto é, o dinheiro não desapareceu. Os ativos transitaram para o Novo Banco, por decisão do regulador. Aliás, pode verificar-se que, no balanço de abertura do Novo Banco, os ativos por impostos diferidos que foram transferidos do BES para o Novo Banco não foram apenas os 1.940 milhões de euros registados nas contas de 30 de junho, mas sim 2.865 milhões de euros, que foram registados em 04 de agosto de 2014”, sublinhou Ricardo Salgado.
Investimento de 95 ME em aumentos de capital “prova” que família desconhecia problemas
O ex-presidente do BES considerou ainda que o facto de ele próprio e a sua família terem investido 95 milhões de euros em aumentos de capital de duas empresas do grupo mostra que não sabiam que havia problemas.
“Fizemos um aumento de capital da ES Control, no qual eu e a minha família investimos 70 milhões de euros. Se soubéssemos que havia um problema, não o tínhamos feito senão estávamos a enganar-nos a nós próprios”, salientou.
“Há ainda investimentos de 25 ME no aumento de capital da Rioforte. Ninguém na família sabia o que se passava, senão não tínhamos investido os nossos recursos nesses dois aumentos de capital”, reforçou Salgado.