Começou, com a mulher, a desenhar e produzir roupa, na garagem, por baixo da casa onde residiam. Passados 50 anos, Amancio Ortega é dono de um colosso que controla oito marcas, fatura 16 mil milhões de euros, gera lucros superiores a 2 mil milhões, emprega mais de 120 mil pessoas e tem uma rede com mais de 6 mil lojas em 86 países. A VISÃO entrou no centro de Arteixo, o “cérebro” do gigante espanhol Inditex
Impávido e sereno, o manequim parece alhear-se de toda a azáfama que o rodeia. A sua atitude contrasta com o dinamismo das três jovens que o despem e voltam a vestir, vezes sem conta. “Preciso de um tom mais claro”, diz uma. “E que tal este estampado?”, pergunta outra. “Os bolsos são diferentes. Dá-me o lilás!”. Do outro lado da mesa, onde coexistem peças de roupa, tecidos, paletas de cores, folhas de cálculo, computadores, listas de produtos, etc., um colega emerge do ecrã de um monitor e entra na conversa: “Esse não. Já o colocámos noutras peças e a aceitação não tem sido a melhor.” “Optamos, então, pelo vermelho com os botões maiores?” A julgar pelo olhar dos restantes, a decisão está tomada e, dentro de duas ou três semanas, as escolhas daquele grupo estarão refletidas nas 1 750 lojas Zara espalhadas pelo mundo.
Cenas deste género repetem-se um pouco por toda a ampla sala do centro de design de Arteixo, Corunha, o quartel-general da Inditex. É aqui que se encontra o cérebro de uma vasta operação que mantém e faz progredir este gigante mundial do mundo da moda. A sala é formada por ilhas, cada uma delas responsável por uma das oito marcas do grupo – Zara, Pull & Bear, Massimo Dutti, Bershka, Oysho, Stradivarius, Uterqüe e Zara Home.
O trabalho é dinâmico, afinal estes jovens concebem 17 mil produtos diferentes, camisas, cintos, blusas, calças, toalhas, entre outros artigos. E, ao contrário do que acontece no tradicional modelo de negócio da moda, na Inditex, os produtos estão em constante mutação. Regra geral, as grandes casas de roupa criam o design para a temporada seguinte e as fábricas começam a confecionar em grande escala os produtos serão distribuídos pelas lojas, no início da estação. No final, o cliente compra se lhe agrada.
Novo conceito
A Inditex, mudou radicalmente este conceito. E alterou-o de tal forma que o modelo de negócio Zara tornou-se um caso de estudo, na Universidade de Harvard. A Inditex inicia o processo da mesma forma que as outras marcas, mas produz em escala reduzida. Espera pela reação dos clientes, que é transmitida diariamente ao centro de Arteixo. “Todos os dias temos retorno do que se está a passar em cada uma das nossas lojas”, garante uma fonte da empresa. Esta informação é passada a cada uma das ilhas das várias marcas. E é com base nela, que estes grupos trabalham para incorporar nos artigos aquilo que é reportado pelos clientes, sejam pequenas alterações sejam mudanças radicais nas peças.
Os fornecedores, por seu lado, nunca têm certezas sobre o que irão produzir. Sabem que terão de fabricar um determinado número de peças, que poderão ser alteradas ao sabor das instruções recebidas da Inditex. Deste modo, a empresa consegue adaptar o negócio às reações dos clientes. Foi a esta forma de estar no mercado que Harvard chamou o “modelo Zara”.
Mas as decisões tomadas em Arteixo, não dizem respeito apenas à produção de roupa. No piso inferior, encontrámos um espaço destinado unicamente à criação da imagem das montras e à arrumação das lojas. É aqui que se define tudo o que irá acontecer nas lojas da China até ao Chile.
Inditex em números
Vendas €15,9 mil milhões
Lucros 2,4 mil milhões
Lojas 6009
Funcionários 120 314
Marcas
Zara Lojas 1 751 Vendas €10 541 milhões
Zara Home Lojas 357 Vendas €350 milhões
Pull & Bear Lojas 816 Vendas €1 086 milhões
Massimo Dutti Lojas 630 Vendas €1 134 milhões
Berksha Lojas 885 Vendas €1 485 milhões
Stradivarius Lojas 780 Vendas €961 milhões
Oysho Lojas 524 Vendas €314 milhões
Uterqüe Lojas 92 Vendas €74 milhões