O beijo na boca do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) a uma das jogadoras espanholas, num momento de celebração em que as novas campeãs do mundo recebiam as medalhas, logo após o triunfo sobre a Inglaterra que decidiu, este domingo, o Mundial de futebol feminino, depressa gerou uma onda de indignação nas redes sociais e não demorou a estender-se a membros do governo ainda em funções.
Quatro ministros já vieram a público condenar o gesto de Luis Rubiales, 45 anos, que em pleno palanque do Estádio Austrália, em Sydney, agarrou com as duas mãos no rosto de Jenni Hermoso e forçou um beijo nos lábios da atleta de 33 anos (um chocho, como se diz na gíria popular). Irene Montero, que tem a pasta da Igualdade no governo de Pedro Sánchez, considera a ação intolerável. “Não demos por certo que beijar alguém sem consentimento é algo que acontece. É uma forma de violência sexual que as mulheres sofrem de forma quotidiana e até agora invisível, e que não podemos normalizar. É uma tarefa de toda a sociedade. O consentimento deve estar no centro. Só sim é sim”, escreveu a governante, militante do Podemos, na rede social X, ex-Twitter.
Partilhando esta publicação da sua companheira de partido, Ione Belarra, secretária-geral do Podemos e ministra dos Direitos Sociais e Agenda 2030 do governo demissionário, afirmou que “a violência sexual contra as mulheres tem que terminar”, deixando um desabafo que acredita ser extensível a todas as mulheres: “Se fazem isto com toda a Espanha a ver, o que não farão em privado”.
Outra reação ministerial ao caso que ensombra a inédita conquista da seleção espanhola de futebol feminino coube a Miguel Iceta, que tem a seu cargo a Cultura e o Desporto. O também secretário-geral dos socialistas da Catalunha (PSC) defende que Luis Rubiales tem de “dar explicações e pedir desculpas” pelo beijo não consentido, e por isso “inaceitável, a Jenni Hermoso, ainda que reconheça o contexto “de muitas emoções” à flor da pele. “Mas, além de um acontecimento desportivo, também vivemos um momento de igualdade, de direitos e de respeito das mulheres. Temos de ser extremamente cuidadosos nas nossas atitudes e nas nossas ações, ainda mais quando temos responsabilidades públicas”, acrescentou, citado pela agência de notícias espanhola Europa Press.
Yolanda Diaz, número dois do governo e líder da plataforma Somar, também não ficou indiferente à polémica. A ministra do Trabalho e Economia Social partilhou uma publicação da deputada Marta Lois, porta-voz do Somar, na qual pede a demissão de Rubiales pelo seu “comportamento sexista intolerável”.
Todas estas reações de membros do governo surgem depois de os dois protagonistas terem tentado retirar a carga negativa ao gesto. Num primeiro instante, a futebolista do clube mexicano Pachuca mostrou-se na rede social Instagram a declarar, durante os festejos no balneário, que não tinha apreciado o beijo, mas o tom é de risada e celebração, enquanto se alimenta e bebe champanhe.
À rádio Cope, Jenni Hermoso justificou a ação de Rubiales com “a emoção do momento e nada mais do que isso”, segura de que não passou de um “episódio anedótico”. E, num comunicado divulgado mais tarde pela própria federação, a jogadora refere-se a “um gesto mútuo totalmente espontâneo pela imensa alegria de ganhar um Mundial”, entre duas pessoas que têm “uma grande relação”, e que trocaram um “gesto natural de carinho e agradecimento”, “de amizade e gratidão”.
Já Rubiales começou por apelidar os críticos de “idiotas e estúpidos” que “não sabem ver o positivo”, para desvalorizar o sucedido e garantir que tudo não passou de “um chocho entre dois amigos a festejar”, “uma coisa sem maldade”. Esta segunda-feira, porém, divulgou um vídeo no qual lamenta o episódio e reconhece que se equivocou, apesar de sublinhar que não houve da sua parte qualquer “má intenção ou má fé”. “Tenho de desculpar-me e aprender que, sobretudo quando represento uma instituição como a RFEF, tenho de ter mais cuidado.”