A resposta à pergunta “gosta de ir, de vez em quando, até Lisboa e andar pelas ruas?” é um assertivo “não”. Depois, Ai Weiwei explica-se melhor: “Na cidade, há muita gente; no meu coração, gosto das pessoas todas, mas prefiro não ter de lidar com elas.”
É a escassos quilómetros de Montemor-o-Novo que o artista e ativista chinês, de 66 anos, passa a maior parte do seu tempo, numa grande casa branca com terreno. A calma não podia ser maior quando ali chegamos, numa manhã de sol. Antes de o encontrarmos sentado a uma mesa, no exterior, com vista para uma convidativa piscina e ao lado de uma gaiola com uma exuberante e colorida ave-do-paraíso, passámos por dois pachorrentos rafeiros alentejanos, que nos recebem sem ladrar, e por umas carpas que nadam em círculos num grande pote chinês transformado em aquário. O silêncio impera. Mas não muito longe ouve-se o ruído das obras no grande edifício que Ai Weiwei está a construir. “Será o meu último esforço arquitetónico, e vejo-o como arte conceptual”, diz. Será um atelier? Um espaço para exposições? Para que servirá? “Para nada.” Será, afinal, uma espécie de templo que nada venera. Quando, depois da entrevista, visitámos esse lugar – de 54 por 54 metros, com paredes de tijolo e um impressionante teto alto de madeira, com grandes traves que se entrecruzam e suportam sem que nenhum prego tenha sido utilizado –, arriscámos perguntar: “Se é uma obra de arte, que título tem?” Ai Weiwei pensa um pouco e parece improvisar a resposta: “House of fakeness”, algo como “casa da falsidade”. E sorri. Uma boa maneira de conhecer melhor a figura misteriosa por detrás desse leve sorriso é ler Zodíaco, uma novela gráfica acabada de lançar, em que o artista cruza a sua biografia e maneira de ver o mundo com as lendas dos 12 animais do zodíaco chinês.