A palavra que dá título ao primeiro álbum de Pongo, sakidila, significa obrigado em kimbundu, uma das línguas de Angola, país onde nasceu e que na infância trocou por Portugal.
“É gratidão. No meio de tanto caos, quando a gente consegue é gratidão. É agradecer, seja a quem ou ao que for, por estar vivo, por conseguir estar aqui. E, principalmente, além de realizares, poderes viver essa realização”, referiu Pongo em declarações à Lusa.
A carreira de Pongo na música começou aos 15 anos, quando deu voz ao tema “Kalemba (Wegue Wegue)”, dos Buraka Som Sistema. A ligação à banda acabou por durar “cerca de dois anos e meio”.
Depois disso, entrou “na luta, independente”, a tentar vingar a solo. Pelo caminho, aprendeu “muito” e levou “muitas rasteiras”.
Em 2019, já com 27 anos, editou o primeiro EP a solo, “Baia”, e no início de 2020 o segundo, “Uwa”, editado pela Caroline International.
Pongo entrou no ‘radar’ de vários meios internacionais, como a publicação NME, que a colocou na lista de cem novos artistas que iriam marcar 2020, e a estação BBC Radio 6 Music, que incluiu temas de Pongo na sua ‘playlist’.
Em 2020, foi uma das vencedoras dos prémios Music Moves Europe, que distinguem artistas emergentes representantes do “som europeu de hoje e de amanhã”.
Para esse ano, tinha programada uma digressão com datas em vários países europeus, a gravação do álbum de estreia e o plano de regressar à terra que a viu nascer, para retribuir com música tudo o que Angola lhe deu.
Entretanto, surgiu a pandemia da covid-19 e os planos acabaram por ser adiados.
Quando os primeiros casos surgiram na Europa, Pongo estava em Paris — onde está toda a equipa, banda e editora que a representa — a começar a gravar “Sakidila”.
“Gravei um tema ou outro, no primeiro dia de estúdio, mas tive que vir embora quando começou a pandemia. Voltei e ficámos todos parados”, recordou.
Em setembro desse ano voltou a Paris, “e aí foram duas semanas a gravar o álbum, a maioria das músicas ficou gravada nessa altura”.
“Depois fomos trabalhando e acrescentando mais temas”, contou.
Enquanto gravava ainda conseguiu fazer alguns concertos, mas sentia que estava “a deprimir e as pessoas também”.
Em “Sakidila”, Pongo mostra “energia, ‘power’, ritmo, velocidade”, em temas como “Bruxos”, que apresentou no ano passado na plataforma internacional de concertos COLORS, mas também há músicas mais calmas.
“Encontro-me como artista no registo mais calmo, mas também no mexer, no movimento. Queria transportar o que faço em palco, o que eu transmito em palco, para o álbum, que é um misto dessas facetas, dos sentimentos, e de histórias e vivências diferentes, que não é só saltos no ar o tempo todo. Porque a vida não é assim, na verdade”, partilhou.
Numa altura em que sentia que as pessoas estavam “inibidas de mostrar a vontade de viver, que estava ali, apesar dos casos a aumentar e muita gente a morrer”.
“Eu aprendi na vida a levantar, porque de onde eu venho não tem comida, não tem água, mas estamos a rir, estamos a respirar, temos que viver. E a música é um elo de ligação que nos faz perceber isso de alguma forma, e eu sinto-me bastante feliz por ter essa oportunidade de conseguir expressar e partilhar os meus sentimentos e conectar com as pessoas pela música”, disse.
Pongo reforça que “Sakidila” é “gratidão pela vida, gratidão por tudo”, e cada um dos 12 temas que compõem “acaba por explicar porquê da gratidão”.
“Espero que as pessoas sintam e compartilhem do mesmo”, afirmou.
Na quinta-feira atua em Lisboa, no B.Leza, e sente-se “muito feliz” por ter “um ‘show’ em casa antes de ir para fora”.
“Adoraria fazer disso um ritual. Começar por casa e depois ir para o resto do mundo, levar a bênção e a energia de onde eu vivo. Levo de onde nasci e cresci para o resto do mundo”, referiu.
Até ao final de agosto, a digressão de Pongo inclui datas em Espanha, Reino Unido, Países Baixos, França, Bélgica, Alemanha, Suíça e Canadá, onde irá atuar pela primeira vez.
“Ainda estou a mexer os cordelinhos para este ano tocar mais vezes em casa, confidenciou.
O desejado regresso a Angola está previsto para janeiro do próximo ano: “Voltar à terra, ir para lá agradecer por ser parte daquela terra, e que por ser parte daquela terra é que eu me reconheço hoje e que o mundo também me reconhece como o pequeno ser humano que eu sou”.
JRS // MAG