Isabel Rio Novo chamou-lhes Os Dias das Árvores e nesses pequenos textos diários, publicados no Facebook, vai registando pensamentos, ideias e momentos de uma existência em quarentena. Muitas vezes, a sua escrita cruza-se com a pintura de outros, o que também acontecerá no seu novo romance, Rua de Paris em Dia de Chuva, que estava prestes a chegar às livrarias portuguesas quando foi decretado o Estado de Emergência e a necessidade de confinamento.
O lançamento desse diálogo literário e artístico com Gustave Caillebotte, pintor e mecenas na Paris da segunda metade do século XIX, ficou adiado para data mais oportuna. Lidou com a frustração – “o lançamento de um novo livro envolve sempre muita expectativa, é como ter um filho que quer conhecer o mundo e que se sente preso”, diz a escritora à VISÃO –, confiou no futuro e aos poucos novas ideias começaram a chegar à pena. O próximo romance bem pode vir a passar pela temática do amor, mais concretamente do amor adolescente. Para se inspirar foi buscar à estante Contos de Amor, de Hermann Hesse.
A pilha da mesa de cabeceira, de resto, tem mais tendência para crescer do que para diminuir. Ontem, por impulso e em jeito de homenagem, acrescentou-lhe, para reler, O Velho que Lia Romances de Amor, de Luis Sepúlveda, escritor chileno falecido vítima de Covid-19. Por estes dias, aliás, tem revisitado as suas estantes, tanto em busca de regressos, quanto de novas leituras. Como juntou a sua biblioteca à do seu companheiro, o também escritor Paulo M. Morais, nas prateleiras encontra livros repetidos, mas também outros que há muito queria ler. Foi o caso de A Morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstoi, e Morte em Veneza, de Thomas Mann, devorados nas últimas semanas.
Ao ritmo dos seus dias das árvores e das partilhas na internet, tem lido vários diários de quarentena, mesmo quando não se apresentam como tal. De todos, destaca o de António Mota, intitulado Mensagens do Avô, com “textos cheios de ternura”.
Com igual entusiasmo segue o Bode Inspiratório, em que também irá participar. Trata-se de um romance coletivo, com novos capítulos todos os dias na página homónima do Facebook. A ideia de reunir 45 escritores e outros tantos artistas plásticos, a que se juntaram recentemente vários tradutores de inglês, francês e espanhol, partiu de Ana Margarida de Carvalho, a quem elogia o trabalho, a dedicação e energia, sobretudo num momento como este. A literatura que lhe interessa é esta que nos faz resistir e sonhar com mais intensidade.