A carta é dirigida à “estimada comunidade de amigos, accionistas e clientes”, e usa uma citação do filósofo israelita Yuval Noah Harari como epígrafe: “A grande vantagem dos seres humanos sobre o vírus é a capacidade de cooperação.” É a essa solidariedade que a Ler Devagar, grupo livreiro fundado em 1999, que tem apostado igualmente numa diversificada programação cultural para fomentar o amor aos livros, quer agora apelar como forma de resistência à anunciada crise económica provocada pela Covid-19.
O “espectro do virismo” que assola a Europa, lê-se, obrigou igualmente ao encerramento temporário das livrarias localizadas em Lisboa, na LX Factory, e em Óbidos, onde a Ler Devagar abriu vários estabelecimentos dedicados ao livro em espaços menos convencionais como igrejas, adegas, escolas ou mercados (no âmbito do Festival Folio que, em 2013, transformou a localidade da região oeste em “vila literária”).
Sublinhando a “perseverança” da Ler Devagar, os responsáveis do documento sublinham que bastou “um mês quase sem vendas” para perceber que a livraria não consegue “gerar o mínimo cash flow para as responsabilidades financeiras e designadamente para os pagamentos dos salários dos nossos trabalhadores”. E, adiantam numa nota dramática, o projeto corre o risco “de entrar já neste fim do mês de março em alguns incumprimentos”. Uma situação com que muitas outras livrarias independentes se poderão identificar, perante as ameaças atuais que agravam o contexto desfavorável de um sector sempre em equilíbrio instável. Face ao cenário de incerteza, e declarando-se à espera dos apoios estatais para as empresas, a Ler Devagar refere ainda, na mesma carta comunitária, estar a equacionar formas de manter os seus encargos, nomeadamente com pessoal (“que é também um dever nosso”).
E é assim que a livraria anuncia um crowdfunding que, asseguram, “não será como o habitual”. Até porque são duas as modalidades propostas. Aos sócios, amigos e clientes, é sugerida a “aquisição antecipada de vouchers de compras de livros” (no valor de €25, €50, €75, €100 e €250), que poderão ser levantados ou entregues asssim que haja um alívio do estado de emergência decretado pelo governo português. A segunda modalidade é dirigida a “quem possa ter alguma disponibilidade financeira”: um apoio sob a forma de empréstimos, sem juros (“não fará grande diferença de capitalização face aos juros praticamente nulos que hoje se praticam”, defendem), reembolsáveis até um ano, e arrumados por escalões: €100, €250 ou €500. Os interessados podem enviar um e-mail para a Ler Devagar (livraria@lerdevagar.com).