Kevin Hart já não vai apresentar a 91.ª edição da cerimónia de entrega dos Oscars, marcada para 24 de fevereiro. O nome do ator e comediante norte-americano foi anunciado pela academia de cinema de Hollywood na quarta-feira, mas o rasto de mensagens homofóbicas, presente em tweets e espetáculos de stand up comedy por ele protagonizados há sete anos ou mais, acabou por motivar a sua renúncia ao papel de anfitrião, nesta sexta-feira.
Pouco depois de Kevin Hart ter sido anunciado como sucessor de Chris Rock e Jimmy Kimmel, começaram a emergir publicações antigas retiradas da sua conta de Twitter (entretanto apagadas) e vídeos de espetáculos de stand up comedy, acessíveis no YouTube, com várias referências homofóbicas.
“Se o meu filho chegar a casa e tentar brincar com a casa de bonecas das minhas filhas, vou parti-la na cabeça dele e dizer-lhe ‘para com isso, não sejas gay’”, escreveu em 2011, entre outros comentários.
Num espetáculo ao vivo, em 2010, Hart apresenta um número (que pode ver no YouTube) em que fala do “medo” que sente de o filho (à época com três anos) vir a revelar-se gay, para de seguida defender, obviamente tentando fazer disso uma piada, a necessidade de o travar “logo no início”.
Numa primeira reação, o comediante alegou, através de um vídeo publicado no Instagram, estar agora “à beira dos 40 anos” e ter outra visão sobre o tema. “Se não acreditam que as pessoas mudam, crescem e evoluem à medida que se tornam mais velhas, não sei o que vos dizer”, soltou, recusando dar mais justificações pelo que afirmara no passado.
A recusa em apresentar um pedido de desculpa aumentou ainda mais o efeito bola de neve, a ponto de a academia de Hollywood o ter pressionado a retractar-se publicamente. Mais uma vez, as palavras de Hart, em vez de apagarem o fogo, atiçaram-no.
“Decidi não pedir desculpa porque já falei sobre isso várias vezes”, argumentou, num segundo vídeo partilhado no Instagram, horas depois. “Não vou continuar a recuar no tempo quando já segui em frente e estou num lugar completamente diferente na minha vida.”
É um facto que em 2015, em entrevista à revista Rolling Stone, o ator mostrou algum arrependimento, garantindo que não contaria “aquela piada” sobre o medo que o seu filho viesse a ser gay. “Quando a contei, não vivíamos tempos tão sensíveis como agora”, justificou. A pegada online, porém, não desapareceu. E voltou a bater-lhe à porta, agora que se preparava para apresentar a cerimónia mais popular do mundo do cinema.
Perante o ultimato dos organizadores, que lhe exigiram um pedido de desculpa para não o substituírem, e uma vez que nenhuma das suas intervenções anteriores apaziguou a polémica, Kevin Hart acabou por seguir ambos os caminhos: abdicou de ser o mestre da cerimónia e pediu desculpa.
“Decidi renunciar à apresentação dos Oscars deste ano… Não quero ser uma distração numa noite que deve ser celebrada por muitos fantásticos e talentosos artistas. Peço sinceras desculpas à comunidade LGBT pelas minhas palavras insensíveis no passado. Lamento ter magoado pessoas. Estou a evoluir e quero continuar. O meu objetivo é juntar e não dividir pessoas. Muito amor e apreço para a Academia. Espero que voltemos a encontrar-nos”, escreveu, em dois tweets consecutivos, para encerrar o assunto.