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Epígrafe: “Fighters don’t fade away.
They just die in front of our eyes”. (Budd Schulberg)
Ficha técnica
Nome: Fernando Marques Lopes (abreviatura: Flopes)
Data de nascimento: já passou os 70.
Naturalidade: al-bai-zir (em árabe: terra de plantas aromáticas, ou Alva Várzea).
Estado civil: casado. Com Marianne (a. k. a. Maria João Seixas) que me trata por “Pierrot” (a. k. a. Ferdinand. Je m’apelle Ferdinand, porra!) 5 filhos 5, 8 netos 8. Já dá para uma equipa de futebol: “Sport Lopes e Benfica”.
Profissão: cineasta com jeito por vocação e trejeito.
Dados profissionais, ou seja: C. V. = Consultar Internet, onde está tudo por ordem e sem sobressaltos sentimentais: longas-metragens, documentários, filmes publicitários e outras tarefas alimentares.
Em caso de obsessão cinéfila ir à Cinemateca, essa Igreja onde oficia o João Bénard da Costa, e consultar Lopes, Fernando.
Está lá toda a memória do meu mundo em imagens e sons.
Nota: Há, na mesma Internet, referências ao Cinéfilo (revista semanal de curta duração e longa influência) e ao 2.º Canal, que ficou também conhecido por “Canal Lopes”.
Alcunhas: Dos inimigos: (cinematográficos): Fernando Lopes Ribeiro; “O Padrinho” (enquanto fui director das co-produções da RTP) Dos amigos: “O Esplendor na Relva” (estes, só os que conheciam os meus desvarios amorosos.) Posição política: Como dizia o Mário (Cesariny): “Falta por aqui uma grande razão”.
Por precaução, e sobrevivência, sigo o princípio, sábio, do velho Herodes: “Ou trabalhas ou te prejudicas”.
Prolegómenos de uma auto-biografia: “Menino e moço me cevaram de casa de meu pai para muito longe. Que causa fosse então daquela minha levada, era ainda pequeno, não a soube”.
Cheguei a Lisboa em 39. Tempo de guerra. A minha tia Maria levou-me ao Grandella (o do Pai Tirano) e vestiu-me de marinheiro.
Logo a seguir parti para Vila Nova de Ourém. Instrução primária republicana, catecismo, comunhão.
Primeiras leituras (Amor de Perdição, As Pupilas do Senhor Reitor, e, semanalmente, o folhetim A Toutinegra do Moinho. Aos sábados e domingos o cinema, graças à minha tia Margarida: (Os Carrascos Também Morrem e 30 Segundos sobre Tóquio.) Primeira paixão: uma trapezista de 14 anos, que também dançava a Rumba Negra.
Sinais particulares: Não é cego aos sons nem surdo às imagens.
Não dança (“Tough guys don’t dance”) Chegada a Lisboa, em 1945.
Rossio, e tudo. Praça D. João da Câmara. Marinheiros americanos, como num filme do Gene Kelly/Stanley Donen.
“Garçon de courses”, num escritório de 4.º andar, que tinha por baixo o “Martinho” e o “Café Suisso”, com a fachada da estação e o “Avenida Palace”, do Sr. Gulbenkian, a dar-nos sombra e guarida.
Começaram aí, nesses tempos longínquos, de eléctricos operários até à Praça da Figueira (Pátio das Cantigas) as minhas vadiagens e deslumbramentos lisboetas o “Chave d’Ouro”, o “Nicola”, os bilhares, o “Éden”, o “Condes”, o “Odeon”, o “Politeama”.
Quando rememoro essa Lisboa, acho que hoje deambulo, perdido, num labirinto de Travessas do Fala Só, e que o fio do horizonte se aproxima. E quanto mais ele se aproxima, como o passado, mais ele se afasta. Pequena, e fatal, obsessão.
Biografia ‘oficial’ aprovada: “Lopes vai filmando no gerúndio.
Como Blanchot dizia das palavras no surrealismo, aqui as imagens e os sons (Belarmino) “são livres e podem talvez libertar-nos; basta segui-las, abandonarmo-nos a elas, colocar ao seu serviço todos os recursos da invenção e da memória.” Qual Maria da expressão, Fernando Lopes prefere “ir com os outros”, perder-se, deixar-se andar, tão vadio como o homem que à sua frente tem, tão desprovido de “maquinação ” a inventar cada solução como o boxêure (é assim que Belarmino diz) vai arranjando um jantar aqui, uma “económica”ali, cinco “crôas” emprestadas, aberto à vida e vivendo de mãos dadas nos bolsos, assobiando ao improvável deus-dará.
Jorge Silva Melo (Século Passado). Para lá da furtiva lágrima, que não contive, ao ler este texto do Jorge lembrei-me do O’Neill: “Que é o cinema mais do que o box não me dizes? Também no cinema não se janta nada, mas nem por isso somos infelizes.
Campeões com jeito é nossa vocação, nosso trajeito.” Retrato final (genérico de fim) Bebi demais (não me arrependo) Fumo demais (não me arrependo) Comovo-me demais (não me arrependo) Sou um erro sociológico.
Estou onde não devia estar, Sou aquilo que não estava previsto que eu fosse.
Desígnios de Deus? Essa questão está para mim (quase) resolvida. Como disse Queneau: “Deus, por pudor, não existe”.
Ou, se existe, Deus é cego, surdo e mudo. Vai dar ao mesmo.
Aviso: o abaixo assinado tem código de barras.
Numa leitura electrónica está lá tudo: paixões, amores, desamores, amizades.
Falta o preço e o prazo de validade.
Sou, portanto, um replicant perigoso! Ou, como diria o Alexandre, um long runner.
“O homem que pedala, que ped’alma com o passado a tiracolo, ao ar vivaz abre as narinas: tem o porvir na pedaleira.”