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Oiça a entrevista e releia a versão integral, publicada, em 1970, no Cena 7:
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“Sou um homem comum e não quero que me transformem numa vedeta – disse-nos José Afonso em certo passo de uma entrevista, a primeira que concedia, após um longo silêncio. A simplicidade e, simultaneamente, uma clara visão do mundo em que se movimenta, definem o cantor e ressaltam das suas palavras carregadas de significado, por vezes também repassadas de ironia, mas sempre directas. Procuramos transmiti-las tal como nos foram confiadas.”
Assim era apresentada, na 1.ª página do suplemento de espectáculos Cena 7, do vespertino A Capital, em 26 de Dezembro de 1970, uma entrevista a José Afonso feita por três jovens jornalistas, em início de carreira, Cáceres Monteiro, que viria a ser director da VISÃO, desde a fundação até falecer, em 2006, Daniel Ricardo, também fundador da revista e seu actual editor executivo e o repórter fotográfico Fernando Ricardo.
Mas as palavras do cantor, nascido há exactamente 80 anos, em 2 de Agosto de 1929, em Aveiro, não puderam ser transmitidas tal como ele as confiara aos entrevistadores. Retalhada pela censura, até as ligações entre os discursos indirecto e directo sofreram tratos de polé, de que resultaram algumas contradições, designadamente nas referências do cantor à influência que o convívio com operários teve na sua obra. “Os leitores hão-de pensar que não sabemos escrever”, lamentou-se, na altura, Cáceres Monteiro, com uma mal disfarçada angústia. Pior do que isso fora, no entanto, a quantidade de frases e respostas inteiras cortadas pelo implacável lápis azul dos censores. Nada, todavia, a que os jornalistas não estivessem já habituados…
Ainda assim, a conversa com José Afonso, que decorreu em Setúbal, em cujo liceu dava aulas, ocupou sete páginas do Cena 7. Primeiro, numa esplanada batida por um vento frio, depois, durante um passeio pela cidade, o cantor, que acabara de gravar, em Londres, o LP Trás Outro Amigo Também, falou de si próprio, da sua música, do negócio das cantigas, de outros cantores portugueses e estrangeiros. E de política – em dado momento, revelou, a custo, porque naquele tempo tal revelação era perigosa, ter votado no CDE, em 1969. Contou, também, das fugas que se viu tantas vezes obrigado a fazer, levando atrás de si Rui Pato, o músico que mais vezes o acompanhou à guitarra, quando a PIDE invadia as associações de estudantes onde ambos actuavam. Mas, sobre esses temas, a Censura não deixou sair nem uma palavra.
A entrevista foi registada em três cassetes áudio, e em cima dela se gravaram, depois, outros trabalhos. Sobrou, no entanto, um extracto, recentemente descoberto por Daniel Ricardo e que pode ser escutado aqui, na visao.pt, onde publicamos, igualmente, a versão integral da entrevista, bem como uma cronologia e a discografia de José Afonso, elaboradas por aquele jornalista.