Em Babel, Alejandro Gonález Iñarritu adaptou a ideia de globalização ao cinema, e de efeito-borboleta, fazendo um filme em que histórias dos quatro cantos do mundo se cruzam. Em Biutiful descobre o mundo inteiro em Barcelona, ou seja, substitui a ideia de globalização pela de cosmopolitismo, ao descrever uma realidade clandestina e marginal. Aliás, Barcelona mal se reconhece e, durante a primeira meia hora de filme, facilmente se confunde com algum bairro da cidade do México. Ali cruzam-se os chineses que fabricam bugigangas com os senegaleses que as vendem e fogem da polícia. Mundos que nos escapam à vista. O intermediário é Uxbal, a personagem de Javier Bradem, que domina o filme. Se de um lado assistimos à miséria africana e chinesa, do seu lado, apercebemo-nos da miséria espanhola ou catalã (apesar de, estranhamente, não se ouvir uma única palavra em catalão ao longo de Biutiful).
Os 147 minutos de película assentam na personagem de Bradem, que aparece particularmente inexpressivo, entre fogos cruzados. Uma personagem que tem a riqueza da ambiguidade, e mostra-se bem-intencionada num mundo cão. A forma como está filmado é também uma valia, com uma estética própria do cinema independente, que faz lembrar Amores Cães. Pena é que, também por ser longo, o filme arrasta-se e perde-se na carga trágica do seu enredo, sendo que o lado espírito e paranormal, timidamente explorado, que pretende servir de alívio da carga dramática, acaba apenas por ser um excesso, que realça a dispersão de elementos. Fatidicamente, Biutiful acaba por não sobreviver às mais de duas horas de duração.