Horácio escreveu algumas das suas
Odes quando a namorada o deixou. Mark Zuckerberg criou o Facebook. O que seria de nós sem o amor? As
Odes de Horácio mantêm-se atuais vinte séculos depois. O Facebook será incomparavelmente mais efémero, mas até ver ‘une’ 500 milhões de pessoas por todo o mundo. O amor move montanhas. O Facebook ainda mais gente.
Talvez seja ingenuidade confundir a história do Facebook com uma história de amor e abandono. Mas foi assim que David Fincher a pintou em A Rede Social, um dos filmes mais esperados do ano. E é por isso que o filme resulta. Se não seria, simplesmente, uma grande chatice, sobre algoritmos, códigos matemáticos, linguagens de programação, cheio de zeros e uns. O que não faria grande sentido porque o Facebook é uma das mais calorosas plataformas informáticas, serve para chegarmos ao outro, enfim, com as devidas distâncias.
Pois, foi por ela. Há sempre uma mulher. Ela deixou-o e ele ficou desorientado. Primeiro quis vingar-se, criando o Facemash (onde comparava a beleza das colegas), depois quis conectar-se criando o Facebook. Mas não foi só isso. A história seria pobre e forçada se não se adicionassem outras duas vertentes: o lado Tucker (1988, Francis Ford Coppola) e o lado Wall Street (Oliver Stone). Daí a brilhante tagline: “Não se pode ter 500 milhões de amigos sem fazer uns quantos inimigos”. Há uma intriga subjacente e também uma questão de classe. Porque o conflito dá-se com uma certa aristocracia estudantil e pedante que domina os clubes sociais da Universidade de Harvard. Há um sentido de revolta. Não querendo entrar em excessos: há uma sublevação do pequeno empreendedorismo face ao poder económico e social estabelecido. Sobre um outro ponto de vista, esse discurso é verbalizado por Sean Parker, o criador do Napster (primeiro site de downloads gratuitos que arruinou a indústria discográfica), que convence Mark Zuckerberg a levar o projeto até ao fim, sem nunca o vender aos ‘grandes tubarões’.
É uma história de Harvard, onde se diz, e o filme repete, que os estudantes em vez de procurar preferem inventar um emprego. Há uma enorme concentração de génios por metro quadrado. Mas são apenas miúdos. O que torna tudo muito mais impressionante. São miúdos que se portam como gente grande. Ou maior ainda. Porque os seus projetos ultrapassaram todos os limites imagináveis. O Facebook, juntamente com o Google e o Youtube, são as empresas do mundo com mais clientes. Muito mais do que a Coca-Cola, a Nike ou a Nintendo. Controlam o nosso mundo, mas alguns dos seus inventores (ao tempo da sua criação) ainda não podiam beber álcool nos Estados Unidos. Dá que pensar.
Há uma ironia latente a todo o filme. O Facebook é uma rede social inclusiva. Permite, por um lado, selecionar, por outro alargar e manter o contacto. Mas na sua base está um excluído. Mark foi excluído pela namorada, pelos amigos, pelas elites de Harvard, pelo mundo em geral. E democratizou uma plataforma que outros queriam exclusiva. Genialmente, essa exclusividade passou a ser controlada pelo próprio utilizador, cada um cria o seu clube social. Uma coisa assim, que une tanta gente, só poderia ter sido inventada por um homem só.