Há histórias que funcionam como uma receita segura de sucesso. Hollywood sabe que, de tempos a tempos, calha bem fazer uma grande produção com a lenda de Robin dos Bosques que a boa bilheteira está assegurada. Assim aconteceu em 1991 com o filme de Kevin Reynolds, com Kevin Kostner, assim acontecerá com este Robin Hood, de Ridley Scott, com Russell Crowe. A dificuldade está em como contar de forma diferente uma história que já foi tantas vezes contadas, em livros, filmes e séries de televisão.
A história de Scott é diferente e aproxima-se mais da História. E esse, aliás, é o segredo da grandiosidade deste filme: ao preocupar-se mais com a História do que com as histórias proporciona-nos grandes cenas de batalha, em estilo megalómano, sempre muito bem filmadas, que devolvem ao cinema o sentido de arte-espectáculo, arrebatadora, sem qualquer necessidade de recorrer a óculos.
No filme de Scott não há um torneio de arqueiros nem um assalto às jóias da coroa. O filme começa com Robin a lutar nas cruzadas, em França, ao lado do Rei Ricardo Coração de Leão, e termina com o Rei João Sem Terra a declará-lo fora-da-lei e inimigo de Inglaterra. Pelo meio, assistimos à criação do mito, ao crescimento do herói.
Ao mesmo tempo que Robin cresce, outras lendas se desfazem. Sobretudo a do Rei Ricardo, apontado como um lunático, apesar de bravo guerreiro. Obcecado pelas batalhas, muito além do racional, tributa o povo em demasia, para arranjar dinheiro para as suas investidas, e depois abandona-o à mercê do seu irmão, João. Ao contrario do que acontece em outras versões, Ricardo é morto na guerra, e nunca chega a salvar a Inglaterra da tirania do príncipe regente.
O Robin Hood deste filme não é ainda o herói dos desfavorecidos, que tira aos ricos para dar aos pobres. Mas um herói numa sentido ainda mais clássico: um guerreiro, um lutador, o líder de um exército. O resultado é um filme empolgante, de ficar agarrado à cadeira do princípio ao fim. Até porque não tem pontas soltas, cruza a História com as histórias de forma perfeita, combina plots de intriga, batalha, fraternidade e amor, em dosagem perfeita, não deixando nenhum círculo por fechar.
Fica apenas aberta a porta para a sequela, para a tal porta da história tantas vezes contada. Entretanto, Ridley Scott já realizou uma série televisiva onde conta a historial real de Robin dos Bosques. E onde deve explicar como a lenda é injusta para o Rei João que tributou o povo para pagar o resgate a Henrique VI, e ficou na História por ter assinado a Magna Carta, que marcou o início da Monarquia Constitucional, nos século XIII, 500 anos antes da Revolução Francesa.