Graças às temperaturas amenas na região, os neandertais que habitavam o que é hoje Portugal e Espanha usavam pouca ou nenhuma roupa. Alimentavam-se sobretudo de frutos e sementes de plantas, mas também consumiam tartarugas, lebres, coelhos, pássaros, veados e, mais ocasionalmente, animais de grande porte, como cavalos e hipopótamos.
Tudo isto concluíram os investigadores que andam há mais de três décadas a estudar os achados na Gruta Bolomor, situada perto da costa mediterrânica, a cerca de 50 quilómetros de Valência, em Espanha. Foi, porém, preciso a paleoartista Gabriela Amorós, da Universidade de Múrcia, pegar nos seus lápis de cor para ficarmos com imagens muito realistas de como era o ambiente que os neandertais habitavam na Península Ibérica.
Nas escavações iniciadas naquela gruta em 1989, o botânico evolucionário Juan Ochando e os seus colegas na Universidade de Múrcia encontraram grãos de pólen e esporos que lhes permitiram tirar conclusões quanto à vegetação na zona, durante a Era Neandertal. No mesmo local, onde recuperaram quatro fósseis de Neandertal (um pedaço de osso de uma perna, dois dentes e parte de um crânio de um adulto), foram também encontrados restos de fogueiras, ossos de animais queimados, cascos de tartaruga igualmente queimados, que provam que as presas eram cozinhadas antes de ser consumidas.
Agora, coube a Gabriela Amorós reconstruir a paisagem em redor da Gruta Bolomor, através de uma série de ilustrações científicas que foram publicadas na edição de março da revista Quaternary Science Reviews. Com a ajuda da equipa de investigadores, a paleoartista desenhou uma visão idílica de um homem de Neandertal e um rapazinho, ambos a descansar num vale perto da gruta e rodeados de vegetação variada.
Segundo José Carrión, biólogo evolucionista e botânico também da Universidade de Múrcia, os neandertais que habitavam a Gruta Bolomor provavelmente comiam frutos e sementes de plantas que cresciam na área. Gabriela Amorós desenhou, por isso, o homem a mastigar uma avelã. Mas também havia na zona morangueiros, alfarrobeiras e castanheiros, todos eles mostrados na mesma ilustração onde vemos a criança a observar uma tartaruga.
O objetivo, sublinha-se no artigo, é inspirar os cientistas a fazerem novas perguntas. Por exemplo, como é que as plantas ibéricas antigas cresciam na natureza antes de serem modificadas pelas práticas agrícolas?