Só no final da próxima semana deverão ser conhecidas as orientações para o arranque da época balnear, previsto para 1 de junho, mas o Governo está já a recolher o contributo de várias entidades para elaborar uma espécie de manual de instruções para a utilização das praias.
Nos últimos dias, os jornais têm antecipado algumas das propostas que estão em cima da mesa. Aumentar a área das zonas concessionadas para garantir o distanciamento físico entre toldos e chapéus de sol dos banhistas, colocar cordas para delimitar os espaços no areal, instalar sensores e aplicações informáticas para controlar o número de entradas, utilizar drones para monitorizar ajuntamentos e, ainda, definir tempos limites de permanência na praia para garantir a rotatividade das pessoas, são as principais medidas em análise, segundo a edição deste sábado do jornal Expresso.
Mas muitas mais poderão ser adotadas. O recurso frequente à bandeira vermelha, para impedir as pessoas de irem ao banho e reduzir o risco de resgate, e com ele, a eventual contaminação de nadadores-salvadores durante manobras de reanimação e de respiração boca-a-boca é outra das propostas avançadas. Na zona do areal, discute-se o encerramento de duches, de lava-pés e de zonas comuns como campos de voleibol e futebol. Já os restaurante e bares deverão privilegiar as esplanadas e a venda de comida e bebidas em regime de take away.
Compete agora à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ouvir as comunidades intermunicipais, autarquias, concessionários das zonas balneares, Autoridade Marítima Nacional, Turismo de Portugal e, claro, a Direção-Geral de Saúde (DGS) antes de definir as regras que vão nortear o verão nas praias de norte a sul do País.
Ainda segundo o Expresso, a DGS poderá vir a aplicar nas praias um distanciamento de 10 metros quadrados para cumprir a distância de segurança de 2 metros no relacionamento social entre pessoas que tem sido recomendada por aquela mesma entidade. Ora, isso levará os concessionários a pedirem um aumento das áreas atribuídas – atualmente são de cerca de um terço da área útil do areal – para compensar as perdas resultantes da redução do número de pessoas. Em praias mais pequenas, como as da linha do Estoril, poderá não sobrar espaço suficiente para colocar chapéus de sol sem pagar, o que coloca o problema de uma eventual “privatização” das praias.
Entre as autoridades contactadas pela VISÃO, o sentimento comum é o de que é necessário “ponderar muito bem as medidas a tomar, mesmo que demore algum tempo”. Se as regras forem muitas, e difíceis de cumprir, os banhistas podem começar a procurar praias não vigiadas, colocando em risco a sua segurança. Sabe-se já que a fiscalização, a cargo da Autoridade Marítima Nacional, será reforçada com efetivos da Marinha, mas no Algarve admite-se o recurso a empresas privadas de segurança para controlar os acessos ao areal, segundo o jornal Público.
Enquanto se aguarda por definições a nível nacional, António Godinho, coordenador da Proteção Civil Municipal de Almada, assinala que estas terão sempre de ser ajustadas a nível local, tendo em conta a extensão das zonas costeiras, o grau de dificuldade no controlo dos acessos, bem como o nível de afluência de pessoas durante o verão.
Nesta primeira semana de desconfinamento, os almadenses regressaram às suas praias, mas apenas para passear no paredão da Costa da Caparica, entretanto reaberto, ou para praticar desporto. “Não temos registo de nenhuma detenção por incumprimento das regras”, disse aquele responsável, acrescentando que as indicações das autoridades foram respeitadas.
Contudo, entre os intervenientes cresce a sensação de que limitar as praias é uma área muito sensível. O próprio primeiro-ministro, António Costa revelou na sexta-feira, em entrevista ao Porto Canal, que o acesso às praias “é dos temas mais delicados que temos pela frente. Ainda não encontrei uma boa fórmula em que eu próprio acredite”.