A incidência de acidentes vasculares cerebrais está a aumentar na população entre os 30 e os 40 anos que testam positivo à Covid-19. Assintomáticos, ou com sintomas ligeiros – apenas algumas dores de cabeça e dormência no corpo –, estes pacientes têm sido vítimas de derrames cerebrais provocados pelo coronavírus.
De acordo com o Washinghton Post, três grandes centros médicos dos Estados Unidos preparam-se para publicar em breve novos dados sobre este fenómeno. Apesar de se terem verificado apenas “algumas dezenas de casos por local”, o estudo fornece novas informações sobre o que o vírus pode fazer ao corpo humano.
Um neurologista citado pelo jornal relata o caso de um jovem de 44 anos, positivo, por si tratado. Quando iniciou o procedimento para remover o coágulo, observou algo que nunca tinha visto antes: enquanto retirava o coágulo, via outros a formarem-se em tempo real. “É uma loucura”, comentou.
O número de casos de pessoas afetadas é “pequeno” (os bombeiros de Noa Iorque dizem estar a atender quatro vezes mais chamadas de pessoas que morrem em casa, algumas com derrames súbitos, mas poucas autópsias foram realizadas), mas desafia a forma como os médicos entendem o vírus, que continua a iludir as principais mentes científicas. Além dos pulmões, surgem cada vez mais evidências de que o novo coronavírus ataca quase todos os principais sistemas orgânicos do corpo.
Um AVC pode ser causado por problemas cardíacos, artérias obstruídas devido ao colesterol ou abuso de substâncias, podendo ser tratados em menos de 24 horas. Mas as análises de pacientes que testam positivo à Covid-19 e que sofrem AVC sugerem o tipo mais fatal de derrame. A doença provoca vários problemas no sangue, que começa a produzir coágulos nas paredes dos vasos sanguíneos, que pode chegar ao coração e causar embolias pulmonares ou ataques cardíacos. Ou podem chegar ao cérebro e provocar um derrame.
Também os hospitais da Universidade Thomas Jefferson, que operam 14 centros médicos em Filadélfia, e a NYU Langone Health em Nova Iorque, descobriram que 12 dos seus pacientes com formação de coágulos no cérebro estavam infetados. 40% tinham menos de 50 anos e não registavam anteriormente qualquer fator de risco. Outros dados indicam que os pacientes com Covid-19 que registam AVC são 15 anos mais novos do que aqueles que não contraíram a doença. De referir que a idade média para um AVC ronda os 75 anos.
Um outro médico assinalou as características pouco comuns de muitos casos que tratou em pacientes com Covid-19. Se os coágulos geralmente aparecem nas artérias, ele também está a encontrá-los nas veias, o que dificulta o seu tratamento. E também aparece mais do que um coágulo na cabeça.
O médico e investigador J. Mocco, que exerce no Monte Sinai, o maior sistema médico de Nova Iorque, verificou que o número de pacientes que chegavam ao hospital com coágulos no cérebro duplicou em três semanas e que mais de metade dos 32 casos registados eram positivos, jovens e sem fatores de risco. Dizendo-se “completamente chocado”, assegurou que a ligação entre covid-19 e derrame “é uma cas correlações mais claras e profundas” que já encontrou.
Detetados a tempo (entre seis a 24 horas), os AVC costumam ser facilmente tratáveis. Daí que seja importante ligar para os serviços de saúde logo que haja qualquer sintoma.