Mário Ferreira está em vias de se tornar parceiro da Prisa na Media Capital – dona da TVI, Rádio Comercial e a produtora Plural – assegurando uma participação de cerca de 30% do capital. Depois de falhada a sua entrada na TVI através da Cofina, o empresário avançou com negociações com a espanhola Prisa para obter uma participação direta. Estas negociações terão chegado a bom porto.
O negócio será divulgado em breve através de comunicado público, possivelmente ainda esta sexta-feira.
O empresário – que recusou repetidamente fazer qualquer comentário, apesar das várias tentativas da VISÃO– está sozinho no negócio, ao contrário de informações veiculadas recentemente, que o davam como integrando um consórcio de um grupo familiar do norte, ou de estar suportado em capitais chineses ou angolanos, apurou a Visão junto de fontes próximas do processo.
Estas negociações exclusivas não terão caído bem junto de outros potenciais candidatos, como Marco Galinha, do Grupo Bel, ou Paulo Fernandes, da Cofina. A proposta do empresário Marco Galinha (dono do Jornal Económico) – que, de acordo com o jornal Público juntava ainda a Prozis, Gustavo Guimarães (do fundo norte-americano Apollo) e a Nova Expressão – não terá chegado a tempo de ser contemplada pela Prisa, tendo ficado pelo caminho.
Também a Cofina que, depois de ter revisto o preço em baixa para 205 milhões, e que acabou por abortar a OPA quase já no seu final, terá ainda feito uma nova aproximação, sem sucesso. Aliás, Cofina e Prisa mantêm agora um contencioso jurídico.
Entretanto, a Prisa substituiu recentemente dois dos seus administradores não executivos na Media Capital. Um dos novos nomeados foi Manuel Alves Monteiro, que é também administrador não executivo da Mystic Invest, a holding de Mário Ferreira para o turismo de cruzeiros fluviais e marítimos. O advogado, ex presidente da Euronext, consultor e administrador não executivo de várias empresas, será membro da comissão de auditoria e presidirá, ainda, à comissão de governo corporativo e remunerações de quadros da Media Capital.
Mário Ferreira com 2% da Cofina
O empresário Mário Ferreira, que começou a sua atividade com uns barcos de cruzeiro no Douro era precisamente um dos parceiros da Cofina na recente OPA lançada à Media Capital. Propunha-se aplicar 20 milhões de euros no aumento de capital em 80 milhões do grupo que controla a CMTV, o diário Correio da Manhã e a revista Sábado, entrando no núcleo duro acionista com uma participação de 15%. Mas no início da pandemia Covid-19, a Cofina recua na operação, alegando não ter conseguido reunir a totalidade de fundos necessários ao aumento de capital. Mário Ferreira disse então ter sido “apanhado de surpresa” pela decisão e adiantou nem sequer ter sido consultado, afirmando mesmo que estaria disponível para meter o capital em falta. Mas, entretanto, acabou por comprar em bolsa, através da sua holding pessoal Pluris Investments, 2,071% da Cofina, de acordo com o comunicado divulgado pela CMVM.
O empresário entrou no negócio dos média ao adquirir uma participação de cerca de 7% na Swipe News, a empresa que detém o Eco, jornal online de economia. Agora, a concretizar-se, este negócio permitir-lhe-á a entrada, pela porta grande, num dos maiores grupos de comunicação social em Portugal.
Em janeiro, quando ainda mantinha a sua parceria com a Cofina, Mário Ferreira, justificava, na conferência da Exame “1000 Maiores & Melhores PME”, o seu apetite pela Media Capital: “Depois da análise ao negócio, vi que a TVI distribuía 20 milhões em dividendos. Por isso, é um bom negócio”, sustentou. E apostava nos conteúdos como sendo uma das áreas do futuro. “Estamos na quarta revolução industrial. Vamos ter mais tempo livre, viver mais tempo e consumir mais conteúdos, sejam eles notícias, novelas, séries… O setor dos media tem tudo a ver com produção de conteúdos e os meios para os distribuir. Isto vai ser um negócio exponencial. E os grandes players internacionais também não vivem sem conteúdos. Agora a Google não paga, mas no futuro poderá pagar. Esta é a fase mais difícil, de transição. Temos é de nos unir”, dizia o homem que pode vir a tornar-se o dono da Plural, uma das maiores produtoras ibéricas, do universo da Media Capital. Na mesma sessão, adiantou ainda que “a TVI estava sem rei nem roque”.
Há cerca de um ano, Mário Ferreira esteve na ribalta ao anunciar o negócio da sua vida. Vendeu 40% da sua Mystic Invest Holding, que concentra toda a atividade fluvial e de cruzeiros, ao fundo norte-americano Certares, por 250 milhões de euros e ganhou o estatuto de armador português. “É dinheiro!”, confirmou então à revista Exame, orgulhoso e satisfeito por ver “26 anos de muito trabalho” a serem valorizados em 625 milhões de euros. O novo parceiro, com sede em Nova Iorque, é um dos maiores grupos mundiais de distribuição de viagens turísticas. Nada melhor para coroar o investimento feito em novas rotas internacionais e a compra de quatro navios-hotel aos estaleiros de Viana do Castelo, que assim ganharam nova vida.
Dos 250 milhões de euros encaixados, 175 milhões serviram para capital e provisões da subholding do ramo náutico, e 75 milhões ficaram disponíveis para investir noutros negócios. Este negócios fez com que entrasse, pela primeira vez, para a lista dos mais ricos de Portugal da revista Exame: uma passagem direta para o 16º lugar, com uma riqueza avaliada em 375 milhões de euros, logo a seguir a Rui Nabeiro (da Delta Cafés) e antes de José Neves (da Farfetch).
Mas a crise do coronavírus também lhe veio trocar as voltas. “Neste momento, não tenho um único negócio a produzir um euro. Está tudo fechado”, confessava à Visão há cerca de três semana. O CEO da Mystic Invest fez mesmo um teste de stress – um “evento único” no setor – para ver se o seu grupo aguentava o “pior cenário: não faturar e não ter nenhum tipo de negócio durante um ano”, disse à VISÃO. “É o plano zero. O que posso garantir é que aguentamos um ano sem faturar. Tomamos todas as medidas necessárias de contenção de custos e não vamos afetar qualquer moratória ou prestação ao banco. Nem vamos cancelar investimentos”, prometia.
De qualquer modo, será um ano em que o setor dos cruzeiros não dará qualquer tipo de lucro. Bem pelo contrário. Se as previsões apontavam para fechar o ano com um EBITDA de €43 milhões, agora este valor deverá ser negativo em €40 milhões. “As perdas andarão pelos €83 milhões de euros, o equivalente a três anos de trabalho! Ou seja, andamos três anos para trás”, lamentou o empresário, que tem já 500 trabalhadores (metade do efetivo total) em lay off.