A tradição é americana mas, em menos de uma década, já está firmemente enraizada no nosso país: mais de 60% dos portugueses planeia fazer compras na Black Friday, de acordo com um estudo da Google Portugal realizado em julho deste ano, envolvendo mais de 5 000 pessoas. Talvez temendo as enchentes nas lojas na próxima sexta-feira, 64% dos inquiridos revelaram preferência pelas compras online. Mais de metade (56%) pretende comprar vestuário e calçado, seguindo-se a tecnologia (49%), perfumes e cosmética (24%), eletrodomésticos (21%) e brinquedos (16%), e embora a maioria das compras (58%) nesta altura se destinem ao próprio consumidor, muitos escolhem já os presentes de Natal (29%) ou outras ofertas para família e amigos (27%).
Nos últimos anos foram reportados alguns abusos de comerciantes e falsas promoções, mas as autoridades estão mais atentas – e os consumidores também –, o que tem vindo a desincentivar estratégias comerciais enganadoras. Este ano, por exemplo, apertaram-se as regras das promoções. No mês passado entrou em vigor uma nova lei que obriga as lojas a aplicar o desconto sobre o preço mais baixo do produto nos últimos 90 dias, excetuando os preços de saldos, de forma a que seja mais difícil “inventar” pechinchas em datas como a Black Friday. Ou seja, se um telemóvel custava 700 euros em janeiro mas baixou para 500 euros em setembro, se estiver agora em promoção a 420 euros não pode surgir com a indicação “-40% de desconto” (relativo ao valor inicial de 700 euros) mas sim “-16%” (em relação ao preço mais recente, de 500 euros).
Muitas das “falsas promoções” da Black Friday detetadas nos últimos anos deviam-se a esta lacuna na lei, e eram comuns em produtos de tecnologia, por exemplo, como computadores, televisões ou telemóveis, que desvalorizam rapidamente. Havia de facto um desconto no produto, mas seguindo a regra de dedução sobre o preço de lançamento, o que poderia ser enganador. Contudo, proliferavam também os produtos mais caros nestes dias, qual ode à matemática criativa. Seguindo o exemplo criado, o mesmo telemóvel poderia estar na sexta-feira a ser vendido a 560 euros com a etiqueta a indicar “-20% de desconto”. Sendo verdade, estaria também 60 euros mais caro do que antes.
Na última quinta-feira de novembro celebra-se nos EUA o Dia de Ação de Graças, uma tradição que remonta a 1621, quando colonos e nativos se juntaram à mesma mesa para agradecer as boas colheitas daquele ano, depois de um longo período de escassez. Foi o presidente George Washington que instituiu a celebração como feriado nacional, em 1789, e é neste fim de semana prolongado que a maioria das famílias americanas se junta à mesa, agradecendo o que de bom têm na vida, comendo peru e trocando presentes. Já no século XX, as lojas das grandes cidades começaram a promover saldos no dia seguinte a este Natal antecipado, para escoarem produtos e realizarem mais dinheiro antes do final do ano.
Em 2018, de acordo com o site Black Friday Global, que conduz inquéritos regulares em 55 países, as vendas em Portugal aumentaram 792% em comparação com um dia normal (no Reino Unido cresceram 1708% e na Alemanha mais de 2000%), e o desconto médio nas lojas fixou-se nos 56 por cento. Esta pode ser uma excelente oportunidade para os consumidores, sobretudo se forem refreadas as compras por impulso, criando uma lista de necessidades e um orçamento máximo.
Como em quase tudo na vida, a melhor forma de nos protegermos é com informação. Devem procurar-se os preços praticados anteriormente e dedicar alguns minutos às páginas de comparações de produtos. Num estabelecimento comercial, a forma mais prática e rápida é utilizar uma App, como a do Kuantocusta: basta apontar a câmara do telemóvel ao código de barras para ter automaticamente informação dos preços praticados noutras lojas. Também é possível pesquisar por marcas e criar um “alerta”, para ser avisado quando o valor do produto baixar.
Nas compras online os cuidados devem ser redobrados, sobretudo no caso de encomendas internacionais. Esta semana é também uma espécie de Natal antecipado para os piratas informáticos, que aproveitam para multiplicar esquemas de phishing, através de emails ou mensagens móveis, com o intuito de roubar dados pessoais e informações bancárias.
Os dados do Black Friday Global relevam também que no ano passado 65% das compras dos portugueses foram realizadas através do telemóvel, o que aumenta os riscos das transações financeiras caso sejam utilizadas redes públicas de Wi-Fi. Todos sabemos, mas muitas vezes esquecemos, que tudo o que se faz numa rede aberta pode ser visto por outros. Há a ilusão de que estamos encapsulados numa realidade que é só nossa, mas é como se andássemos pelo mundo vestindo roupas de organza transparente.
Nos telemóveis é também mais fácil entrarmos num site “mascarado”, seguindo links aparentemente fidedignos. Sendo normal recebermos notificações de lojas e marcas das quais somos clientes, é cada vez mais fácil enganar até os mais avisados. Nada de clicar em ligações, nem responder a perguntas ou partilhar dados pessoais – especialmente se prometerem um prémio imediato. Na dúvida, o melhor é desconfiar do que parece bom demais para ser verdade: provavelmente, não será mesmo.
Nas lojas físicas
- Verifique a qualidade e a validade dos produtos
- Tenha especial atenção a defeitos
- Compare os preços, usando uma aplicação móvel
- Guarde os talões para eventuais reclamações ou trocas
Nas compras online
- Leia as condições (e preços) de entrega e devolução
- Não confirme uma encomenda sem verificar se os descontos foram aplicados e se as quantidades são as corretas
- Desconfie das mensagens de e-mail, sms ou WhatsApp que convidem a seguir um link para obter grandes promoções, sobretudo se em seguida lhe pedirem dados pessoais
- Verifique se a página onde navega é “oficial”, ou se será uma cópia ou “montra” falsa
- Não faça compras numa rede Wi-Fi aberta, para evitar o roubo dos seus dados bancários