Durante cerca de três horas, Sara Barros Leitão sentou-se na Praça da Batalha, no Porto, com o seguinte cartaz: “Escuto histórias (de amor, desamor, intrigas, finais felizes, sem final). Tenho chá, biscoitos e tempo (também podemos ficar em silêncio).” A cadeira ao seu lado só esteve vazia nos primeiros minutos. Os relatos não foram utilizados pela atriz/dramaturga/encenadora no espetáculo, interessava–lhe apenas escutar, algo tão raro nos dias de hoje. Antes deste episódio, tinha mergulhado nos arquivos municipais do Porto e nos prontuários da toponímia portuense, com vontade de se atirar à memória das ruas da cidade. E os números escancararam uma realidade: apenas 2,5% das ruas têm nomes de mulheres (51, ao todo).
Sara Barros Leitão quis, então, construir um espetáculo em forma de monólogo que fizesse jus ao papel desempenhado pelas mulheres ao longo da História. Ocupar o espaço público com as pequenas narrativas de quem habitou a cidade e merece, como qualquer outra pessoa, ser imortalizada. Todos os Dias me Sujo de Coisas Eternas, verso roubado à poeta Luana Carvalho, está inserido no programa Cultura em Expansão, da Câmara Municipal do Porto. O espetáculo implica um micropercurso à volta da Casa d’Artes do Bonfim e, por isso, não é aconselhável a quem tenha mobilidade reduzida ou dificuldade de locomoção. A lotação está limitada a 50 pessoas.