Por Sara Santos, Fotografias de Diana Tinoco
O sotaque do norte ecoou durante todo o dia nos quatro cantos da Alfândega do Porto, que recebe, estes dias, a 45ª edição do Portugal Fashion. O primeiro, que decorreu na quarta-feira, foi maioritariamente dedicado aos (muito) jovens talentos da moda, que puderam mostrar ao público atento as suas mais recentes criações.
O Bloom, que vai já na sua 19ª edição, tem precisamente esse objetivo: apoiar os novos designers portugueses na promoção do seu trabalho, servindo como uma plataforma onde se pretende pensar e fazer pensar, tanto o outro como os próprios. “E o que é necessário ter pessoalmente para se conseguir ser um bom designer de moda?”, perguntámos a todos eles individualmente nos bastidores, ao mesmo tempo que se afinavam os últimos pormenores dos fittings dos modelos.
“Criatividade”, respondeu prontamente João Sousa, um dos designers que integrou o desfile coletivo Bloom Upload, destinado a criadores que ainda se encontram numa fase inicial dos seus percursos. Apesar de já ter nascido neste milénio, João Sousa provou que, aos 19 anos, já tem as suas vontades bem definidas e encaminhadas. Na passerelle, apresentou cinco coordenados com muitos brancos e menos padrões, que nos levaram até à savana e selvas africanas. O objetivo era transmitir o impacto devastador da extinção de animais no mundo, assim como a preocupação pela preservação dos grandes felinos em África, já que o seu número tem vindo a reduzir drasticamente ao longo dos anos. O branco representa, por um lado, a diminuição de espécies mas, por outro, uma esperança para o fim da caça furtiva e da poluição que destrói vários habitats.
Carolina Sobral inspirou-se no trabalho da fotógrafa eslovaca Maria Svarbova para apresentar a sua coleção “Swimming Pool”, com peças volumosas, fluídas e simples, conjugadas com acessórios exuberantes. A sua preferida, contou a designer à PRIMA, é um vestido branco comprido, super fluído e wearable.
Ainda na plataforma Bloom Upload, José Pinto, criador da marca ARIEIV, também teve a oportunidade de apresentar a sua coleção SS20, “Solve et Coagula”. Admitindo ter grande ligação a todos os vestidos, o designer referiu, ainda assim, não ser capaz de escolher um coordenado preferido. “Espero que esta coleção seja surpreendente para o público e para quem eu estou a elaborá-la”, contou José Pinto.
Quem fechou este desfile coletivo foi a marca 0.9 Vírus, criada pelo designer Filipe Ferreira, com uma mão cheia de coordenados que pretendem transmitir a liberdade e espontaneidade de cada indivíduo e a sua necessidade de mudança pessoal, unindo a modernidade, casualidade e praticidade na passerelle. As cores escolhidas pelo criador remetem para uma sensação de calor sobre um ambiente mais frio: o branco, cinzento e azul, ligados a ambientes mais tranquilos, misturam-se com cores mais quentes, como o laranja e o amarelo, associados à liberdade e ao otimismo.
Ao fim da tarde, e pela primeira vez em quase 20 edições, o Bloom teve na sua passerelle criações de sete jovens designers italianos, finalistas da Milano Moda Graduate SS20, uma iniciativa da Camera Nazionale della Moda Italiana. Durante meia hora, os criadores mostraram os seus coordenados, provando por que são os melhores alunos das escolas mais conceituadas de moda na Itália.
Mas não foram apenas estudantes estrangeiros que deram cartas esta quarta-feira no “palco” do Portugal Fashion. A iniciar todo o evento, vários estudantes de seis escolas de moda portuguesas – a MODATEX, a CENATEX, a ESAD, a EMP, a ESART e a FAUL – tiveram a oportunidade de apresentar as suas últimas criações num desfile coletivo onde não faltou cor, irreverência e padrões de todos os tipos.
Antes de Katy Xiomara fechar o primeiro dia de Portugal Fashion, a marca Unflower e as criadoras Maria Meira e Rita Sá apresentaram, ainda, as suas coleções.
A primeira, criada pelas designers Joana Braga e Ana Sousa, pretendeu retratar uma viagem descontraída e divertida para a mente, daí a coleção ter o nome de “Joyride”. Inspirando-se, como sempre, na arte das flores, mas também numa obra de Henri Matisse, os coordenados são joviais e descontraídos, misturando aplicações com várias formas, pérolas e muita cor. Já as flores podem ser encontradas nos brincos, bolsas e sapatos, por exemplo.
Maria Meira pegou em temas atuais e que têm sido, ultimamente, muito mais debatidos – como a sexualidade, a violência doméstica e a violação – para criar a sua coleção e marcar uma posição relativamente aos mesmos. Inspirando-se no movimento feminista Riot Grrl, a designer criou coordenados onde o branco, o preto e o rosa forte predominam. A sua peça preferida de toda a coleção é um vestido preto de alças, curto à frente e mais comprido atrás, apresentado com uma t-shirt branca por dentro e atado com fios rosas na zona da cintura.
Já a coleção de Rita Sá, “À mão de semear”, pretende retratar uma pessoa que vive demasiado despreocupada em relação àquilo que lhe pertence e que se sente confortável em deixar tudo à mão de semear.
Perto das 21h, os desfiles terminaram. Os focos foram desligados, mas não por muitas horas. A Alfândega do Porto vai servir de palco da moda até este sábado, dia 26.