Pianos com teclas em marfim, travessas de cabelo em casco de tartaruga, árvores borracheiras a alimentar uma indústria cada vez mais exigente. No final do século XIX, desenhava-se um problema a nível mundial: os recursos naturais que serviam para construir os objetos do dia a dia, da vida doméstica à laboral, estavam em franco declínio. A solução? Encontrar um material alternativo, sintético, para aliviar a exploração dessas matérias-primas vindas da natureza. Primeiro surgiu o baquelite, uma resina sintética patenteada em 1909, um percursor do plástico. “Foi muito importante nas telecomunicações. Era forte e resistente ao calor”, conta Anniina Koivu, curadora da exposição Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo, na visita de apresentação à imprensa.
É raro olhar-se para o plástico como uma necessidade, mas foi exatamente isso que aconteceu no início do século XX. Ele chegou, para servir várias indústrias, desde a militar à aviação, desde a moda – pense-se no nylon das meias – aos aparelhos e utensílios de cozinha, passando pela medicina. E disseminou-se muito rápido. “Era leve, moldável, barato”, explica a curadora. Em suma, democratizou-se.
O advento deste, à data de hoje, muitíssimo polémico material, conta-se na exposição que inaugurou no MAAT no passado dia 22 de março. Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo é uma coprodução entre o Vitra Design Museum, na Alemanha, o V&A Dundee, na Escócia e o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Já passou pelos dois museus acima citados e estará em Lisboa até ao final de agosto.
Para ver com tempo, a exposição está dividida em três partes. A primeira é composta por uma instalação de vídeo que aborda a história entre o plástico e a natureza; na segunda apresenta-se a necessidade de criação do plástico e o seu rápido alastramento na sociedade; finalmente, na terceira juntam-se várias soluções alternativas ao uso de plásticos, na forma de materiais biodegradáveis, renováveis, e, ironicamente, de novo, algumas matérias naturais, como as algas ou os micélios.
Com recurso a vídeos, fotografias, infografias e um arquivo de peças muito rico, onde se vêem uma maquete da Monsanto House of the Future, uma casa inteiramente construída em plástico, ou uma imagem da revista Life que celebrava a cultura do descartável e até uma reedição da cadeira Garden Egg, feita num biopolímero à base de algas, esta é uma exposição para todas as idades, da qual é impossível sair indiferente. “Reinventar o material é necessário, mas mudar mentalidades também”, resume a curadora.
Até 28 de agosto, no MAAT. De quarta a segunda, das 10h às 19h. Bilhetes entre os €6 e os €17 (bilhetes família). Grátis para crianças até aos 12 anos