Numa das muitas aventuras vividas pelo Tio Patinhas & Companhia, o genial professor Pardal inventa uma fábrica de fazer diamantes. Pega num pedaço de carvão, enfia-o numa máquina que aquece e comprime até chegar a uma joia brilhante, ‘gémea’ de um diamante extraído das entranhas da Terra. A invenção não está muito longe da realidade da produção de diamantes sintéticos, cada vez mais populares, sobretudo depois de expostos os podres do tráfico de pedras preciosas. Nos combustíveis sintéticos a lógica é a mesma. Pegar no carbono disponível na atmosfera e trabalhá-lo por meio de reações químicas e assim imitar um processo que na natureza decorre ao longo de milhares de anos.
Há um século que a reação química de produção de hidrocarbonetos líquidos a partir de hidrogénio e carbono é conhecida. Tem o nome de Fischer-Tropsch, em homenagem aos dois alemães que a inventaram, e ao longo dos tempos vem sendo usada pontualmente, para resolver falhas graves no abastecimento de combustíveis derivados do petróleo, como aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, ou em África do Sul durante o Apartheid. O custo das operações face ao da extração do petróleo já prontinho tem sido um dos obstáculos à generalização do recurso a este processo. Mas é tudo uma questão de prioridades – e incentivos. No final de março e após a persistente e descarada insistência da Alemanha, a União Europeia acedeu a permitir a comercialização de veículos movidos a motores de combustão, depois de 2035, desde que estes sejam alimentados a combustíveis sintéticos, em particular gasolina produzida a partir de carbono capturado da atmosfera e hidrogénio gerado por fontes renováveis. A argumentação alemã – que faz eco das intenções da Porsche, acionista do grupo VW – é a de que o balanço de carbono dos sintéticos é zero uma vez que a captura de CO2 do ar, usado no processo de síntese, anula as emissões da combustão.