Apesar de o número de veículos elétricos estar a aumentar em vários países e de grande parte dos obstáculos financeiros e tecnológicos já ter sido removida, ainda há entraves de ordem cognitiva a impedir a transição. Para combater as alterações climáticas e o efeito poluente dos gases de estufa na atmosfera, é necessário que a frota global tenha 12% de carros híbridos e elétricos até 2030 (bastante acima do 1% registado em 2020). Um estudo da Universidade de Genebra concluiu que os proprietários subestimam muitas vezes a capacidade e autonomia destes carros para as suas necessidades diárias e acabam por afastar-se destas alternativas no momento de escolher um novo veículo.
Os investigadores da universidade suíça referem que, mesmo com a descida dos preços, incentivos, aumento da densidade de postos de carregamento, a adoção destas alternativas mais limpas tem sido lenta e que isso se deve agora principalmente a fatores mentais. “Até agora, as iniciativas para a transição focaram-se genericamente nas barreiras tecnológicas e financeiras para a sua realização. Os fatores psicológicos mereceram pouca atenção. No entanto, muitos estudos mostram que os indivíduos não adotam automaticamente comportamentos benéficos para si ou para a sociedade, frequentemente por falta de acesso a informação completa”, afirma Mario Herberz, autor do estudo, citado pelo EurekAlert.
A equipa entrevistou mais de dois mil condutores alemães e dos EUA, com diferentes idades e perfis, identificando que há um “subestimar sistemático da compatibilidade das capacidades das baterias disponíveis no mercado face às suas necessidades reais”, afirma Tobias Brosch, outro dos autores. Na prática, os condutores não estão convencidos de que os carros elétricos tenham autonomia suficiente para aquilo de que precisam no seu dia-a-dia. “Para confortar as pessoas, a solução passa não só por aumentar a densidade da rede de carregamentos ou pelo aumento do tamanho das baterias, que requerem recursos escassos como lítio ou cobalto. É necessário também fornecer informação completa adaptada às necessidades concretas dos condutores que reduza as suas preocupações e aumente a sua vontade em adotar um veículo elétrico”, conclui Herberz.
A investigação mostra que 90% das viagens poderiam ser completadas com carros com uma autonomia de 200 quilómetros, um valor modesto face ao que os veículos conseguem oferecer atualmente. “A tendência é aumentar o desempenho, mas observamos que uma maior autonomia, de 300 quilómetros, por exemplo, não aumenta a compatibilidade com as necessidades diárias. Teria apenas um impacto mínimo no número de viagens adicionais que podem ser completadas com uma única carga”, disse o investigador.