Algumas caraterísticas, com destaque para a potência pouco superior a 40 cavalos, deixaram-nos de ‘pé atrás’ quando fomos convidados a experimentar o novo Dacia Spring, ainda numa versão não final – a marca ainda deverá afinar alguns detalhes para os carros que vão ser produzidos em série. Depois do primeiro contacto, pouco mais de 100 km entre Porto e arredores, podemos dizer que, uma vez mais, concluímos que não devemos ter preconceitos. Comecemos pela potência. De facto, o Spring não tem aquela aceleração rápida que estamos habituados nos elétricos. Mas tem a força sempre disponível destas motorizações e até se despacha q.b.. O suficiente para não criar problemas em ultrapassagens em velocidades baixas e médias. Até porque o peso é bem mais baixo do que é típico nos VE. Não é, no entanto, um carro para autoestrada, já que tem alguma dificuldade a ganhar velocidade acima dos 80/90 km/h e está limitado à velocidade máxima de 125 km/h (132 é que vimos no painel de instrumentos). Como, nos VE, a potência do motor pode ser, em larga medida, definida pela programação, acreditamos que os escassos 44 cavalos disponíveis sejam uma forma de manter os consumos controlados e de até ajudar na segurança.
Feito para a cidade
O Spring prefere o meio urbano, onde o raio de viragem de 4,8 metros e a pequena dimensão garantem agilidade. Por falar em dimensão, também aqui a ideia preconcebida revelou-se errada. As fotos levaram-nos a acreditar que o Spring era maior. Qualquer coisa próxima de um Dacia Sandero. Mas não, é mais próximo de um Renault Twingo. Como tudo parece ter sido desenhado à escala, incluindo rodas, faróis e painéis, as fotos criam a ilusão de um carro maior do que é. Pode ser uma desilusão para quem estava a pensar num Spring como opção para a família. Não é.
Considerando as limitações, o Spring até chega a ser divertido de conduzir. Abusámos (muito) em estradas em péssimo estado e ficámos surpreendidos pela solidez. Nada de ruídos parasitas e a suspensão para o ‘mole’ ajuda a compensar as pequenas rodas e, curiosamente, até funciona bem para evitar descontrolos nas curvas. É um carro que adorna de modo evidente, mas que, paradoxalmente, revela-se previsível. Embora não seja preciso abusar muito para se sentir o controlo de estabilidade a entrar em ação e a travar os exageros do condutor. Sim, porque apesar do preço, o que mais importa está lá tudo: controlo de estabilidade, pré-tensores de cintos de segurança e travagem automática para evitar choques frontais… Até temos direitos a ‘luxos’ como ar condicionado, quatro vidros elétricos, painel de instrumentos semidigital (ecrã de 3,5 polegadas) e, na versão Confort Plus (€18.300), um ecrã tátil central com navegação e suporte para Android Auto e Apple CarPlay. A interface não é nem atrativa nem rápida, mas cumpre em funcionalidade.
Infelizmente, não há grandes opções para personalizar a posição de condução. O banco não tem acerto em altura e o condutor vai relativamente alto. Felizmente, o interior tem uma altura satisfatória, mas, uma vez mais, o Spring não convida a viagens longas. Ainda assim, como referimos, a suspensão faz um bom trabalho a compensar os problemas das estradas e os bancos têm conforto q.b..
Velocidade de carregamento: q.b.
De série, o Spring suporta carregamento AC (normal), com potência de 6,6 kW, o suficiente para carregar a toda bateria em menos de 5 horas, o que, na prática, poucas vezes se faz. Satisfatório para uma utilização diária para quem raramente fará mais que 200 km num dia. Como será o caso de famílias que vão considerar o Spring como carro complementar, dedicado às viagens curtas do dia-a-dia. Mesmo a abusar muito e com AC sempre ligado fizemos 103 km com um consumo médio de 14,9 kWh/100 km, acabando com 48% de bateria. Parece-nos difícil consumir mais do que isto, a não ser se a viagem tivesse sido toda em autoestrada com ‘prego a fundo’. O que significa que podemos contar, realisticamente, com mais de 200 km de autonomia, o que pode ser suficiente para uma semana em percursos urbanos curtos.
Há suporte para carregamento rápido (DC) até 30 kW, o suficiente para recuperar 80% da autonomia em menos de 1h ou cerca de 100 km de autonomia em menos de 30 minutos. Mas a má notícia é que este tipo de carregamento, via porta CCS, é opcional e custa €550. O que penaliza o preço final do Spring.
Primeira opinião
O Spring é um elétrico para quem procura emoções fortes, espaço para a família, grande autonomia e acabamentos premium? Não, longe disso. Mas, neste primeiro contacto, pareceu-nos um carro ‘honesto’, que satisfaz perfeitamente quem procura um citadino com custos de utilização baixíssimos. Além dos consumos baixos – considerando as médias de outros jornalistas, deverá ser fácil fazer consumos entre 11 a 12 kWh/100 km –, este carro terá vantagens em vários outros custos. Os pneus, por exemplo, são pequenos e, consequentemente, económicos. São os custos totais de propriedade que tornam o Spring uma opção apelativa. Continua a ser mais caro que um carro a gasolina equivalente, mas a diferença já é baixa q.b. para que o investimento seja recuperado mesmo por quem faz poucos quilómetros por dia. Durante a apresentação ouvimos que o Spring até pode ser para a Dacia o que o 4L foi para a Renault. Tendemos a concordar.
Características
Autonomia (WLPT combinado): 230 km ○ Bateria: 27,4 kWh úteis ○ Carregamento: até 6,6 kW em AC (36 km/h), até 30 kW em DC (120 km/h) ○ Potência/binário: 33 kW/125 Nm ○ 0-100 km/h: 15 seg., vel. máx.: 125 km/h ○ 3,734×1,700×1,516 m (CxLxA)