Trocou a carreira de economista pela paixão pelo cinema, percorreu os cinco continentes a contar histórias e desafiou a desconcertante energia italiana do pós-II Guerra Mundial. Michelangelo Antonioni (1912-2007) marcou a história do cinema italiano com o mergulho profundo que deu na incompreensível existência humana, com a agilidade fotográfica com que saltitou entre paisagens e objetos e com o privilégio que concedeu à visão sobre todos os outros sentidos.
Tudo habilidades que podem ser vistas no Cinema Nimas, em Lisboa, num ciclo promovido pela Leopardo Filmes e que conta com cópias digitais restauradas de sete obras assinadas pelo cineasta. Em setembro, o programa estende-se a outros pontos do País, chegando ao Porto (Teatro Campo Alegre), Setúbal (Cinema Charlot), Coimbra (Teatro Académico de Gil Vicente), ao Theatro Circo de Braga e ao Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
No Nimas, em setembro, haverá ainda três sessões especiais com Blow Up, Zabriskie Point e Profissão: Repórter, filmes dos anos 1970
Seguindo uma linha cronológica, a retrospetiva do trabalho de Antonioni começa no estilo ainda romanesco do amor extraconjugal entre Paola (Lucia Bosè) e Guido (Massimo Girotti) em Escândalo de Amor (1950) e acaba na busca exaustiva de Niccolò (Tomas Milian) pela musa do seu próximo filme em Identificação de Uma Mulher (1982). Pelo meio, há espaço para O Grito, de 1957, na transição do neorrealismo para o existencialismo, e para a Trilogia da Incomunicabilidade (A Aventura, 1960; A Noite, 1961; e O Eclipse, 1962) que, entre viagens de barco e festas, ricos e pobres, revela como as angústias humanas estão para além do inteligível e do decifrável.
Já a cores, nota ainda para os inovadores tons desvanecidos das paisagens industriais d’O Deserto Vermelho (1964) e para a história de Giovanna (Monica Vitti), uma mulher cujos estados depressivos e de profunda inadaptação têm um só antídoto: o amor. Entre desilusões e angústias, mistérios e segredos, a obra do cineasta italiano é um poço de sabedoria para explorarmos a nossa intimidade, e só por isso já temos muito a agradecer-lhe.
Veja o trailer do ciclo dedicado a Michelangelo Antonioni
Michelangelo Antonioni – O Passo em Frente > Cinema Nimas > Av. 5 de Outubro 42, Lisboa > 26 ago-1 set > Porto, Setúbal, Coimbra, Braga e Figueira da Foz > a partir 1 set