É um festival sui generis que junta duas características diferenciadoras: um olhar feminino, ou seja, todos os filmes são realizados por mulheres; e a limitação geográfica na zona do Mediterrâneo. O resultado são dezenas de obras que propõem uma visão alternativa sobre um mundo que nos está próximo, mas que por vezes temos dificuldades em ver. Um dos temas predominantes é, inevitavelmente, as migrações. Mas há filmes para todos os gostos, revelando cinematografias fascinantes a que poucas vezes temos acesso. É o caso de Deus Existe, o seu nome é Petrúnia, de Željka Burić, que nos leva à Macedónia do Norte para nos contar uma história de emancipação feminina em conflito com as tradições enraizadas da Igreja Ortodoxa. O filme, que abre o festival, parte de uma cruz-amuleto que uma jovem apanha num ritual reservado a homens. No encerramento, A Filha de um Ladrão, de Belén Funes, é um mergulho no realismo social espanhol, num drama que conta a história de uma mãe solteira que se confronta com o regresso do seu próprio pai, após 22 anos de ausência.
Em competição, estão 23 curtas-metragens e cinco longas, com alguns filmes impressionantes. É o caso de Entre o Céu e o Inferno, de Najwa Najjar, que conta a história de uma mulher palestiniana que usa a primeira viagem autorizada para Israel para tratar dos papéis do divórcio. Ou o documentário Eu Sou a Revolução, de Benedetta Argentieri, focado em três mulheres do Médio Oriente, que dirigem a luta pela liberdade e pela igualdade de género. Fora de competição, destaca-se a secção Travessias, que denuncia e reflete sobre os fluxos migratórios e suas drásticas consequências. Uma das mais impressionantes obras é Número 387, em que Madeleine Leroyer parte em busca dos despojos de alguns dos mais de 30 mil migrantes que perderam a vida a tentar chegar à Europa.
Trailer do filme “Entre o Céu e o Inferno”, de Najwa Najjar
Olhares do Mediterrâneo > Cinema São Jorge > Av. da Liberdade, 175, Lisboa > T. 21 310 3400 > até 29 nov > €4 > Filmin Portugal (online) > até 10 dez