O fotojornalismo luta contra o esquecimento – e o conjunto de 200 imagens reunidas nesta exposição (na verdade, cinco) prova-o bem. Como é possível termos enterrado entes queridos sem ninguém para lhes dizer adeus, a não ser quatro sinistras figuras que parecem astronautas? Como é possível que no 25 de Abril tenha sido um homem só, de bandeira de Portugal ao ombro, a descer a Avenida da Liberdade? E como é possível que tudo isto se tenha passado ainda ontem? Diário de uma Pandemia atira-nos à cara, sem pedir licença, o que foram os últimos seis meses das nossas vidas. É como se nos víssemos ao espelho e descobríssemos aquilo que não queríamos ver.
O coração desta exposição é Everydaycovid, projeto que nasceu da iniciativa de dois fotojornalistas, Miguel A. Lopes e Gonçalo Borges Dias, que criaram uma página no Instagram para documentar a quarentena e acabaram por contar com a participação de 119 fotógrafos. Entre as mais de 600 imagens publicadas (escolhidas por um grupo de fotógrafos que todas as noites se reunia, à distância, para decidir o que publicar), cinco editores escolheram 90 para esta exposição, que ocupam praticamente todo o primeiro piso (partilhado com uma instalação de Jérôme Pin, editor de televisão, feita com ecrãs que vão ruidosamente debitando notícias sobre a Covid-19). “Não há memória de um projeto fotográfico tão abrangente no nosso país”, escrevem os curadores.
No segundo andar, mostra-se a imagem de Portugal projetada no estrangeiro através do olhar dos fotógrafos das agências internacionais. Na sala ao lado, relembram-se capas da Imprensa portuguesa sobre a Covid-19 (escolhidas por João Paulo Cotrim) e vê-se Claro e Escuro, exposição de Luísa Ferreira. Diário de uma Pandemia é uma iniciativa de uma nova associação cultural, a CC11, criada no início de 2020 por cerca de 30 fotógrafos, com o objetivo de divulgar e promover o fotojornalismo.
Diário de uma Pandemia > Espaço CC11 > R. Centro Cultural, 11, Lisboa > até 31 out, ter-sáb 15h30-19h30 > grátis