Numa espécie de flasback, Alfredo Cunha regressou a 1974 para voltar a caminhar, de objetiva em riste, ao lado de militares e tanques, a espreitar ruas e vielas. Em A Idade da Inocência: Memórias a Preto e Branco, exposição que inaugura no site do Mira Forum, no Porto, neste sábado, 25, reuniu 21 fotografias inéditas, resgatadas daquele dia em que a liberdade saiu à rua.
Não se trata de um outro olhar, mas de “uma seleção de imagens que nunca foram publicadas”. “Foi esse facto que determinou esta escolha”, sublinha Alfredo Cunha, autor das mais icónicas fotografias do 25 de Abril. Na exposição virtual, não está o retrato de Salgueiro Maia, de rosto sereno e olhar fixo na câmara, captado no Largo do Carmo, entre outros momentos registados pela lente do fotojornalista.
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Nestas imagens desse dia de vertigem, que mudou o destino de Portugal, observa-se a atitude pacífica dos militares, as armas e os tanques estacionados no Terreiro do Paço, o espanto no rosto das pessoas que, aos poucos, vão tomando conta da rua. E segue-se o olhar terno e inocente dos jovens militares, um deles com um penso na cara – o único ferido, ao que parece, naquele dia. “Tanto eles como eu, sabíamos o que estávamos ali a fazer, mas não o que poderia acontecer”, recorda Alfredo Cunha. “Se tudo corresse mal, podia ter sido muito complicado para todos.”
Nesta exposição online, que celebra os 46 anos da Revolução dos Cravos, está a memória histórica, política e afetiva de uma geração, captada pela lente do jovem repórter. Em 1974, Alfredo Cunha estava a dar os primeiros passos numa carreira que iria ter continuidade nas quatro décadas seguintes. Perante a situação atual, provocada pela Covid-19, e apesar de a escala ser planetária, o fotojornalista acredita estar a viver, tal como naquele abril de 1974, “um tempo em que tudo é possível”. “Uma pessoa viver uma coisa assim uma vez é raro, duas é quase impossível”, desabafa.
O lápis azul passou por aqui
Já o Museu Nacional da Imprensa, também no Porto, inaugura 24/25 Abril nos Cortes, exposição online que reúne artigos censurados, na rádio e na televisão, em livros, no cinema, no teatro, no associativismo e na imprensa escrita. Trata-se de um outro ângulo da Revolução dos Cravos, que revela os mecanismos da Censura, através de cerca de quatro dezenas de documentos. A mostra, que pode ser vista no site do museu, apresenta ainda cartazes simbólicos sobre a queda do Estado Novo, textos sobre a esperança que os Capitães de Abril trouxeram ao País e ainda fotografias de algumas figuras da revolução, em comemorações do Dia da Liberdade.
Dois ângulos de um dia que mudou para sempre a história de Portugal, em exposições para ver na internet, sem sair de casa.
A Idade da Inocência: Memórias a Preto e Branco > Mira Forum > R. de Miraflor, 155, Porto > miragalerias.net/mira-forum> inaugura 25 abr, sáb 14h > 24/25 Abril nos Cortes > Museu Nacional de Imprensa > EN 108, 206, Porto > www.museudaimprensa.pt > 25 abr-30 set