Para a escritora, dramaturga, performer e cenógrafa Patrícia Portela, não restam dúvidas de que “a cultura é uma bomba de oxigénio”. Em fevereiro, quando ocupou o cargo de diretora artística do Teatro Viriato, em Viseu, estava longe de imaginar que, poucos dias depois, encerraria as suas portas e viveria um momento tão trágico e avassalador. “Foi uma decisão muito difícil, a ideia de cancelar um espetáculo é absolutamente devastadora, até porque os artistas têm entranhado, como se fosse um juramento de Hipócrates, o the show must go on”, conta.
Ultrapassado o choque inicial, “tornou-se claro como o contacto social era importante, por isso tínhamos de continuar a promover os encontros”, sublinha. Uma solução online não a satisfazia. “Não queríamos perder a essência do que é a presença, materializada pela voz, algo que vem cá de dentro, em tempo real, e cria outra proximidade”, defende. Surgiu então a ideia de um Consultório Literário, um festival telefónico para contornar este período de maior recolhimento, com “especialistas da condição humana” – leia-se livreiros, editores, escritores, atores, críticos e filósofos – disponíveis para atender as chamadas de todos aqueles que precisem de apaziguar as suas dores físicas e morais.
A fazer as marcações das consultas estará uma “assistente-enfermeira” do Teatro Viriato, que fará uma triagem dos males e achaques de quem telefona, para melhor se dosear a medicação. “Se a pessoa tiver ataques de ansiedade, não lhe vamos ler Rimbaud”, exemplifica Patrícia Portela. As conversas – privadas, como não poderia deixar de ser – demoram 15 minutos.
Depois da primeira edição ter sido à volta da poesia, esta semana, de quinta a sábado, das 14h às 16h, o consultório será uma Pediatria Contista para Todas as Idades, ocupada pelo “doutor” Miguel Gouveia, da editora de livros infantis Bruaá, que se encarregará das leituras para maiores de quatro anos (os interessados, terão desconto de 20% nos livros da editora). Para a semana, dias 2 a 4 de abril, as conversas serão mantidas em formato vídeo com escritores e atores espalhados pelo mundo, que vão falar do que tem sido viver em quarentena nas suas casas. Está ainda a ser planeada uma edição com pensadores e filósofos, para ajudar a refletir sobre a crise atual.
Após a realização de cada Consultório Literário, será publicada no site do Teatro Viriato uma Ata das Dores Públicas, onde constará uma lista dos autores que participaram, das dores diagnosticadas e das obras prescritas, lidas e comentadas. Cuidado com as autoprescrições!
Teatro Viriato > T. 92 445 4409 (marcações seg-sex, 13h-19h) > qui-sáb 14h-16h (sem data prevista de conclusão) > grátis