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Leonor Teles nasceu e cresceu em Vila Franca de Xira, onde conheceu Albertino Lobo, o pescador aqui retratado. Os seus anteriores filmes, Rhoma Acans e Balada de um Batráquio, olhavam para a comunidade cigana na sociedade portuguesa
As expectativas eram imensas – e a pressão também. Depois de Leonor Teles ter vencido o Urso de Ouro no Festival de Berlim, um feito raro no cinema português, com Balada de um Batráquio, ficou a incógnita sobre o que a jovem realizadora iria fazer a seguir. A resposta foi de uma sobriedade e de uma autoconsciência espantosas. Leonor prosseguiu o seu caminho, trabalhando em filmes de outros, sem atalhar etapas e preparando sobriamente este Terra Franca na descoberta da própria linguagem.
Parecia claro que o estilo punk de Balada de um Batráquio – com a própria realizadora e o seu assistente a entrarem por lojas adentro, para partirem sapos de louça – era difícil de repetir. E Leonor não foi por aí. Também não enveredou pela ficção, registo que é sempre mais apetecível, sobretudo a nível comercial. Manteve-se fiel ao percurso íntimo e ofereceu-nos este belíssimo documentário que, ao contrário dos filmes anteriores, não tem qualquer ligação à etnologia cigana mas nem por isso deixa de estar próximo das raízes da realizadora. Enquanto o novo cinema romeno tende a filmar ficções como se fossem documentários, Leonor Teles segue o caminho oposto. O seu filme está próximo da ficção, pela solidez do campo narrativo, a ausência da câmara, a montagem certeira, a naturalidade das personagens que se comportam como atores. Uma técnica apurada, só possível graças a uma grande preparação e um à-vontade com os retratados, e muitas horas de filmagens. De alguma forma, isto aproxima-se das obras mais recentes de João Canijo ou de filmes de produtoras como Terra Treme e Pedra no Sapato (esta última, de resto, produtora deste documentário).
Terra Franca conta a história da família Lobo, de Vila Franca de Xira, que Leonor Teles conhece desde a infância. Entramos a fundo no seu quotidiano e, especialmente, na personagem do pai, Albertino, um pescador, nascido num barco, obrigado a adaptar-se à mudança dos tempos. A filha mais velha vai casar-se e, com nervosismo e orgulho, todos se dedicam aos preparativos e, depois, à festa. Este quotidiano torna-se próximo, intensamente humano, criando com o espectador laços de afinidade, de intimidade e de afeto. Francamente bom.
Veja o trailer do documentário Terra Franca
Terra Franca > De Leonor Teles, documentário > 82 min