Há remakes mais arriscados do que outros. Em pleno século XXI, tocar em Mary Poppins, imortalizada por Julie Andrews em 1964, exige alguma coragem – e um grande orçamento… Tecnicamente, na verdade, não é bem um remake. Encaixa melhor na definição de “sequela”, uma vez que passaram alguns anos sobre a narrativa original e as crianças da família Banks tornaram-se adultos. Mas todo o conceito é muito semelhante ao do filme de 1964 e – magia! – Mary Poppins não envelheceu. Nesse aspeto, é como o regresso do mesmo filme para novas gerações.
A Disney teve o bom senso de não transportar a história para a atualidade. Situá-la poucos anos depois da Grande Depressão (de 1929), em Londres, ajuda a um certo classicismo nos cenários e a uma evocação nostálgica que faz parte da identidade do filme. Curiosamente, essa opção ajuda também a fazer uma ponte com a atualidade. Grande parte do público adulto (e até alguns espectadores mais jovens) irá certamente reconhecer como bem atual o episódio que guia a narrativa: uma família é expulsa da sua casa no centro de Londres pela dificuldade em cumprir as suas obrigações contratuais com o banco (e o público português estranhará ver o vilão, o banqueiro Wilkins, interpretado por Colin Firth, sempre de cravo vermelho na lapela…).
O expulso é Michael Banks (Ben Whishaw), que enviuvou recentemente e luta por manter alguma ordem na sua casa e na sua vida (mesmo com os três filhinhos sempre muito solícitos a tentarem ajudar). É o mesmo Michael que encontramos como criança no filme de 1964. Vinda dos céus agarrada a um guarda-chuva, Mary Poppins (Emily Blunt), a ama mágica, acorre em seu auxílio, tão disciplinadora como especialista em brincadeiras inesquecíveis… O filme desenrola-se como um escorreito musical, com várias canções e números (um dos melhores é o de Meryl Streep, em versão topsy-turvy, e toda a sequência de desenhos animados quando crianças e ama mergulham numa taça de porcelana partida…). Como filme de Natal para toda a família, era difícil pedir melhor.
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O Regresso de Mary Poppins > De Rob Marshall, com Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw, Meryl Streep, Colin Firth > 130 minutos