
A mostra individual apresenta cerca de 80 fotografias, a maioria inéditas
LUISA FERREIRA
Sobre a exposição, Luísa Ferreira assume isto no texto de apresentação: “Branco é um projeto íntimo, faz parte do meu sentir, é uma escrita fotográfica que pode ser invisível para o outro.” O outro − isto é: os outros que somos nós − terá uma página privilegiada para descodificar as narrativas possíveis: uma grande mostra individual que revela cerca de 80 fotografias, na sua maioria inéditas, distribuídas em diversos formatos que contemplam desde imagens “pequeninas” a trabalhos de grande escala ou até fotografias antigas retiradas à história familiar.
O tamanho, diz a fotógrafa, tem que ver com “cargas diferentes”. O resto, conta, tem que ver com momentos, memórias, tempos, e, sobretudo, sentimentos. À VISÃO Se7e, ela recusa um rótulo simplista como “balanço”, sublinhando antes a expressão plástica das imagens e a sua importância emocional. “Talvez seja um memorial ao que aconteceu na minha vida, à passagem do tempo”, concede Luísa.
Esta é uma revisitação imbuída de espiritualidade, presente nas gotículas que pulsam num decote, no retrato fantasmático que dilui os traços do rosto como se este fosse uma galáxia desconhecida, na natureza-morta composta por laranjas a apodrecerem… “Branco é um ponto de vista sobre o Universo comigo lá dentro. Fotografo o que me rodeia para nele me ver refletida”, defende Luísa. E é igualmente uma “iconografia pessoal” em que a fotógrafa cede ao jogo de espelhos, de sedimentos. “[É uma] construção de uma morfologia do mundo, através da aposição de fragmentos. Água, matéria líquida, superfície, movimento. Floresta, altitude, densidade, textura, terra. Ar, nuvens, azul. Pedra, tempo incrustado, densidade, forma. São alguns dos elementos recorrentes no meu trabalho. Também a cidade me é próxima, no entanto verifico que poucas imagens da grande urbe estão incluídas em Branco.”
No espaço da galeria, cabe, assim, um autorretrato camuflado, um movimento terapêutico, uma revisitação dos fascínios antigos que a despertaram para a fotografia, como o velho álbum de família. “São imagens latentes que povoam a minha mente e o meu sentir”, diz-nos. Este caminho sensível tem um prolongamento num “livro de artista” patente na exposição, no qual se alinham fotografias e polaroides originais. Um outro espelho, ainda, para encontrar Luísa Ferreira.
Galeria Monumental > Campo dos Mártires da Pátria, 101, Lisboa > T. 21 353 3848 >14 set-25 out, ter-sáb 15h-19h30 > grátis