Como seria a natureza sem a presença dos animais, mas com os efeitos das ações humanas? Paisagens silenciosas, propõe Gustavo Ciríaco no seu novo trabalho Gentileza de um Gigante. A performance estreia-se esta quarta-feira, 30, e terá apresentações até sábado, 2 de abril, no Espaço Negócio.
As relações do homem com o espaço urbano e com a paisagem já são temas recorrentes na trajetória do artista brasileiro, que atualmente reside em Lisboa. A criação de Gentileza de um Gigante surgiu a partir de um fascínio sobre o mundo dos arquitetos, como revela Gustavo: “É a capacidade de, antes de existir um determinado mundo, um prédio ou um parque, existir essa realização de tornar real um panorama num formato de minuto através da maqueta.”
O público terá então à sua frente a representação de uma mesa de arquitetura, um homem e uma mulher nus, paisagens a serem construídas gradualmente – vales, rios, planícies – e desconstruídas na velocidade de um sopro, impulso ou levantamento. Para Gustavo Ciríaco, não existir qualquer interação entre os intérpretes é intencional para eliminar uma história prévia entre eles. E o facto de estarem despidos serve para criar uma relação de atemporalidade. “A proposta é ter um homem e uma mulher construindo paisagens, são lidos apenas por aquilo que fazem”, sublinha o diretor.
Gentileza de um Gigante foi desenvolvida em quatro residências artísticas. A primeira, em dezembro do ano passado, aconteceu no Largo Residências, em Lisboa, e constituiu-se na concretização das ideias com a presença de toda a equipa do projeto. Depois, uma versão do processo foi apresentada no Festival Temps d’Images, no Teatro da Politécnica.
Em fevereiro, o Arquipélago Centro de Artes, nos Açores, acolheu a segunda fase numa pesquisa entre o diretor e os dois intérpretes, Ana Trincão e Tiago Barbosa, sobre a interferência corporal no panorama das paisagens a partir de texturas, estados e materiais. Em março, e finalizando o projeto, aconteceram as duas últimas investigações: no espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, com a construção do objeto cénico, a mesa arquitetónica; e no Espaço Negócio, em Lisboa, com a definição do roteiro e dos desenhos das paisagens.
“Estamos numa Era em que o homem ganha força geológica. As atividades do homem têm um impacto tão grande que suas ações aceleram e potencializam as consequências que estão a tornar espécies extintas e podem levar à sua própria extinção. Essa gentileza de um gigante tem ao mesmo tempo um caráter quase infantil de construção de mundos, só que, dentro desse jogo, há uma certa crueldade, inerente à atividade humana”, explica Gustavo Ciríaco.
O projeto, uma trilogia, segue para o segundo momento, em abril, no Festival Internacional de Danza Contemporanea de Uruguay, em Montevideu. A instalação artística Viagem a uma Planície Enrugada irá ocupar os espaços das galerias a partir de uma residência de criação entre Gustavo Ciríaco e artista uruguaia Natália Viroga. Já a terceira parte, o artista adianta que ainda está no plano das ideias e que se constituirá na produção de um filme escuro, sem imagens, apenas com sensações.
Espaço Negócio > Rua de O’Século 9, porta 5, Lisboa > T. 21 343 0205 > 30-31 mar, 1-2 abr, qua-sáb, 21h30 > €5 a €7,5