Julie Delpy tem piada. É o que em França existe de mais parecido com Woody Allen. Não será uma clown, ao estilo de Buster Keaton ou Charlie Chapplin, mas antes uma atriz/autora essencialmente de comédia, o que é bastante invulgar no feminino. E diga-se a seu favor que Julie Delpy é feminina no estilo que criou, de forma natural e sem qualquer mimetização de modelo masculino. Embora se reconheça a influência do seu trabalho de atriz aquando das suas notáveis participações em filmes de Richard Linklater. Porque, ao que tudo indica, a sua carreira de autora tenha começado enquanto atriz no seu encantador papel em Antes de Amanhecer (1994), ao lado de Ethan Hawke, a primeira parte da trilogia de Linklater. A partir daí, sempre que nos cruzamos com Delpy nos ecrãs, ficamos com a sensação de encontrar a mesma personagem numa fase diferente da vida.
Da trilogia de Linklater Delpy terá tirado o gosto por uma forma particularmente sensível de filmar a intimidade, mas também a atração por relações improváveis e a gestão dos seus conflitos e incompatibilidades. Em Lolo, tal como acontecia em Dois Dias em Nova Iorque (2012), há um conflito entre dois mundos antagónicos: de um lado a sofisticada produtora de moda Violette, do outro um informático “labrego” de Biarritz. Apaixonam-se sem aparente explicação. Mas o verdadeiro ponto de colisão é Lolo (o masculino de Lolita?), o seu filho de 19 anos, que subtilmente faz de tudo para que a relação não resulte, tornando-se a principal fonte de peripécias. O obstáculo essencial a qualquer comédia romântica. Com uma interpretação assinalável de Vincent Lacoste, e Julie Delpy igual a si própria, Lolo é uma das raras comédias francesas contemporâneas de autor(a), o que a torna simultaneamente leve e estimulante.
De Julie Delpy, com Julie Delpy, Dany Boon, Vincent Lacoste, Karin Viard > 99 min